Título: Petistas e oposição mantêm cautela
Autor: Mazzini, Leandro ; Moura,Norma
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/04/2009, Brasil, p. A8

27 de Abril de 2009 - Cautela. Essa foi a palavra de ordem na base governista e na oposição, depois da revelação da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que surpreendeu o meio político do País. O anúncio de que vai tratar com quimioterapia, durante quatro meses, um linforma, colocou em alerta aliados e adversários. Ela retirou um tumor maligno da axila esquerda, de dois centímetros, há três semanas. Aparentemente tranquila, a pré-candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou um recado de otimismo, durante a coletiva de sábado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. "Quimioterapia é sempre desagradável, mas, como tantos brasileiros que enfrentam esse desafio e o superam, tenho certeza de que as consequências não serão problemáticas e poderei continuar com o meu ritmo de trabalho", diz.

Tão logo anunciou o tratamento, a cúpula do PT reforçou que não tem plano B para 2010 e que mantém a esperança da candidatura dela. "Os médicos disseram que está tudo sob controle. Com os avanços da medicina, há mais instrumentos para atacar essa doença. Isso não muda em nada os nossos planos", adiantou o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (PT).

Na torcida pela recuperação de Dilma, o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), que discretamente também postula o cargo de vice na chapa presidencial, reconheceu que a saúde da ministra será determinante na composição do cenário político. "A sucessão vai depender muito da evolução do quadro de saúde dela. Só em 2010 será possível decidir. Torço por sua recuperação".

Amigo de Dilma, o governador do Rio, Sérgio Cabral, aplaudiu a atitude de revelar à sociedade a existência do tumor. "Ela demonstrou seriedade e respeito à opinião pública ao dar total transparência ao assunto. Como amigo e companheiro, rezo para seu pronto restabelecimento", avaliou Cabral.

Embora a ministra tenha reforçado que não fala de sucessão presidencial, cientistas políticos afirmam que o assunto torna-se inevitável nos bastidores, mesmo envolvendo a saúde dela. Para Eurico Figueiredo, cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense, o presidente Lula sempre trabalhou com um plano B. "É uma candidatura que nunca foi submetida às urnas. Não se sabe a capacidade da Dilma na mídia. E ela tem subido nos índices de preferência com José Serra (PSDB) ainda bem distante dela. Para o cientista político e professor da PUC-RJ Aluízio Alves Filho, o momento exige cautela nas previsões políticas diante do novo fato. "É muito cedo ainda para avaliarmos se o tratamento a tira do quadro sucessório. Em todo caso, a forma como foi feito o anúncio, por ela mesma, não foi um ato espontâneo, mas de cúpula. Mostra que o partido quer mantê-la como candidata.

Dilma passou o domingo em Brasília, descansando, e hoje embarca com o presidente Lula para visitar obras do PAC no Norte.

A oposição ao governo preferiu a diplomacia e driblou o discurso político sobre o problema de saúde da ministra. Tucanos e democratas se solidarizaram com a situação e se esquivaram de comentar se a revelação muda as perspectivas para a sucessão presidencial. Dois dos mais duros adversários do Planalto no Senado, os senadores Heráclito Fortes (DEM-PI) e Arthur Virgílio (PSDB-AM) não esconderam a surpresa. Heráclito, que está em Frankfurt, na Alemanha, e Virgílio, que viajou ontem pelo interior do Amazonas, preferiram anunciar apoio pessoal. Até elogiaram a atuação dela à frente da Casa Civil.

"Nesse momento não falo do futuro político, mas pessoal, desejando-lhe franco restabelecimento", disse o democrata. "É um exemplo a coragem dela de expor isso. Desejo a ela que se recupere rápido, porque é uma situação que nos choca. O importante é servir o País do jeito que ela tem feito", disse Virgílio, que se esquivou de comentar o quadro político.

O senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, mandou o mesmo recado: "A preocupação é a saúde da ministra. Ela é adversária, não inimiga". Presidente do PPS, um dos principais partidos da oposição, o ex-senador Roberto Freire também disse torcer pela recuperação da petista. "Torço para que ela fique boa, isso é que é importante, independentemente da questão política".

Um dos presidenciáveis do PSDB, o governador de Minas, Aécio Neves, divulgou nota onde se diz "surpreso com a notícia". Mas alega estar seguro de que a ministra enfrentará essa adversidade com a grande força pessoal que já demonstrou possuir. "Torço por sua plena e rápida recuperação".

Apesar de ter de se submeter a sessões de quimioterapia para tratar o tumor, a ministra não deixará de cumprir seus compromissos. A afirmação foi feita por ela no sábado. O tratamento deve durar quatro meses. O linfoma é um tipo de câncer no sistema linfático que pode afetar tanto adultos quanto crianças. No caso da ministra, que tem 61 anos, o tumor foi detectado em exames de rotina e retirado, ainda em estágio inicial, com chances de cura em mais de 90%.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Leandro Mazzini e Norma Moura com Agência Brasil)