Título: Superávit menor reforça visão de queda mais lenta na Selic
Autor: Carvalho,Jiane
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/04/2009, Finanças, p. B1

São Paulo, 27 de Abril de 2009 - Uma desaleceração no ritmo de cortes na taxa básica de juros (Selic). Esta é a aposta da maior parte do mercado financeiro para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana. Das 15 instituições ouvidas pela reportagem, 12 cravaram em um corte de um ponto percentual na Selic, para 10,25% ao ano. Apenas um banco, o HSBC, estima redução de apenas 0,75 ponto percentual na taxa, e outras duas instituições, o Santander e a Austin Rating, veem espaço para a manutenção do ritmo atual e novo corte de 1,5 ponto na Selic. Os efeitos defasados da política monetária, a retomada do crédito doméstico e o corte no superávit primário foram pontos comuns nos discursos dos que apostam em um ritmo menor no afrouxamento da política monetária.

"Boa parte do ajuste nos juros básicos já foi feita e há sinais de melhora econômica. Acredito que o Banco Central vai preferir esperar que os cortes já feitos tenham reflexo", comenta Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. Na ata da última reunião, o colegiado citou a necessidade de se manter atento aos efeitos defasados da política monetária. Em média, os efeitos de um corte na Selic demoram até seis meses para se materializarem. "Espaço para reduzir mais a Selic existe, mas acredito que o Copom reduzirá a taxa em um ponto percentual."Outro fator que justifica a redução no ritmo de corte é a recuperação do crédito. "Antes da reunião passada, o risco de desaceleração era muito grande, mas já há sinais de melhora e os últimos dados do crédito, principalmente para a pessoa física, comprovam isto", explica Alexandre Lintz, economista-chefe do banco BNP Paribas. O crédito a pessoa física somou R$ 281 bilhões em março, com aumento de 1,5% em relação a fevereiro e de 10,8% em doze meses.

A decisão do governo federal de cortar a meta do superávit primário - economia para pagamento de juros - de 3,8% para 2,5% do PIB também colabora para uma maior cautela do BC. "A decisão abre espaço para mais gasto por parte do governo que deve estimular a demanda ajudando na recuperação econômica", avalia José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Uma das vantagens de o BC cortar mais lentamente o juro, diz Gonçalves, está ligada à remuneração da poupança. "Uma aproximação mais lenta da taxa a partir da qual outros produtos de investimento perdem competitividade é interessante, dá tempo para o governo resolver o problema."

Uma das vozes dissonantes é a do economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, que acredita em nova redução de 1,5 ponto na Selic. "A atividade econômica ainda está fraca e a inflação abaixo do centro da meta, o que torna possível reduzir mais forte o juro", diz. Pelo relatório de mercado do BC, a expectativa é de um IPCA no ano de 4,23%, abaixo do centro da meta que é de 4,5%. Para 2010, a previsão é de 4,40% para a inflação. O dólar, que poderia afetar negativamente os preços, tem recuado e, na última sexta-feira, fechou a R$ 2,19.

Além de espaço para cortar novamente a Selic, Agostini lembra outro impacto positivo da manutenção no ritmo de queda. "O efeito nas contas públicas é grande e também deve ser levado em conta, há vantagens em um corte maior", diz o economista. Caso repita o movimento da reunião anterior e reduza a Selic para 10% ao ano, a economia com o pagamento da dívida pública será de R$ 7,07 bilhões em 12 meses, calcula. Independentemente do corte no juro desta semana, os analistas mantêm a estimativa de que a Selic feche 2009 abaixo de 10%, patamar histórico.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Jiane Carvalho)