Título: Vale produz 37% menos minério de ferro no trimestre
Autor: Lorenzi, Sabrina
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/04/2009, Indústria, p. C6
Rio de Janeiro, 29 de Abril de 2009 - As medidas do governo para revigorar a indústria de automóveis, eletrodomésticos e a construção civil foram bem recebidas pelo restante da cadeia produtiva, mas não deve aumentar imediatamente a produção de aço e, muito menos, a de minério de ferro. Apesar da melhora nas vendas, as siderúrgicas mantêm nove alto-fornos paralisados - até que reduzam os elevados estoques. Com mais de 80% da produção voltada para o exterior, a Companhia Vale do Rio Doce diminuiu a produção de ferro em 37,1% no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado, para somando 46,86 milhões de toneladas métricas.
"Vale tem lidado com os efeitos dos cortes da produção de aço nas Américas e Europa, bem mais significativos do que em outras regiões do mundo", frisou mineradora em comunicado. A companhia ressaltou que a produção de aço na Europa caiu 43,8% no primeiro trimestre deste ano, em relação com o verificado com o primeiro trimestre do ano passado. Na América do Norte, houve corte de 52,1% na mesma comparação, enquanto no Brasil a redução foi de 42,1% no período.
Os números de fevereiro e março, porém, mostram que a produção de aço no Brasil vem se recuperando. Para o especialista José Armando Figueiredo Campos, membro do Conselho de Administração da ArcelorMittal, ainda é cedo para comemorar uma provável retomada. O executivo explica que pelo menos dois meses são necessários para as que as vendas no varejo comecem a impactar a produção de aço.
A visão coincide com as projeções do analista do Goldman Sachs, Marcelo Aguiar. O especialista espera aumento da produção somente entre maio e junho. "A recuperação da demanda de aço está sendo muito mais no Brasil do que no resto do mundo. Mas acredito que as siderúrgicas vão agir com muita prudência e os alto-fornos devem ser ligados no segundo semestre", avalia.
De acordo com Marco Polo, de Mello Lopes, vice-presidente executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), "há um moderado otimismo" no setor. As vendas de eletrodomésticos representam 6% do consumo de aço. E o incentivo à indústria automotiva e de construção são dois empurrões importantes também. "Só que 40% das nossas vendas são exportações", ponderou. É o mercado externo que as siderúrgicas temem. Ele admite que há uma aposta na retomada, mas também existe muita cautela. "As perspectivas do mercado externo não são boas", completou.
Enquanto a produção de aço deve começar a reagir neste segundo trimestre, a retomada do minério de ferro vai acontecer no final do ano, de acordo com especialistas. Para Rodrigo Ferraz, do Brascan Corretora, pode haver "alguma melhora" no terceiro trimestre. Por mais que no Brasil a produção de aço tenha boas perspectivas, a Vale vende para o mercado interno apenas 15% da produção, segundo ele.
As agências internacionais Reuters e Bloomberg informaram que um executivo da Vale na China teria dito que a empresa cortaria em 25% sua capacidade de produção de minério de ferro, mas a empresa, aqui no Brasil, negou a informação. "A Vale nega que algum de seus executivos tenha afirmado que a empresa vai cortar sua produção de minério de ferro em 25% no ano de 2009", informou em comunicado.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 6)(Sabrina Lorenzi)