Título: Governo admite que doença chegará ao País
Autor: Moura,Norma
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/04/2009, Internacional, p. A12

Brasília, 30 de Abril de 2009 - O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, admitiu ontem que a gripe suína deve chegar ao Brasil. Apesar do segundo aumento do nível de alerta de transmissão da doença em menos de 48 horas, Temporão afirmou não haver motivo para pânico. O ministro disse que foram adquiridos 12,5 mil kits de tratamento para uso imediato e que o País tem matéria-prima em estoque para produzir rapidamente medicamentos para atender até nove milhões de infectados, além de toda a rede de vigilância em alerta e pronta para receber os pacientes. "Seria irresponsabilidade dizer que ela não vai chegar aqui, mas estamos prontos para combatê-la", afirmou Temporão.

O ministério da Saúde divulgou ontem que duas pessoas, uma de Minas Gerais e outra de São Paulo, estão isoladas com suspeita de estarem com o vírus Influenza A (H1N1). Elas se enquadram no protocolo internacional para diagnóstico da doença e estão sob tratamento com o medicamento antiviral Tamiflu - distribuído pelo fabricante, o laboratório Roche, apenas para a rede pública de saúde.

Segundo o relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgado às 20 horas de ontem, outras 36 pessoas em 11 estados brasileiros estão sob monitoramento com sintomas semelhantes aos da gripe suína, mas não são consideradas ainda como suspeitas de possuírem a doença. Elas serão liberadas à medida que os hospitais de referência descartarem a possibilidade do contágio. Os resultados dos exames laboratoriais realizados em todos os pacientes devem ficar prontos em até dez dias.

O Ministério da Saúde vai regular a distribuição do Tamiflu. Ontem foram enviados preventivamente 200 kits de tratamento para o Rio de Janeiro e outros 200 para São Paulo. Os demais estados devem receber hoje 20 tratamentos cada. "Essa quantidade pode ser alterada conforme a velocidade de transmissão e o acompanhamento epidemiológico", explicou o presidente da Anvisa, Dirceu Raposo. "Pernambuco pode precisar de mais medicamentos devido ao grande fluxo de aeronaves".

Desde o último sábado, todas as secretarias estaduais de saúde foram acionadas para intensificar o monitoramento e a detecção pela rede de vigilância de pessoas possivelmente contaminadas.

A confiança de Temporão na capacidade do País enfrentar a doença deve-se à existência do Plano de Preparação Brasileiro de Enfrentamento de uma Pandemia de Influenza. O plano, que começou a ser implementado em 2005 por causa da gripe aviária, com o treinamento dos estados para aplicá-lo, abrange uma rede interligada para troca de informações em tempo real entre vários órgãos governamentais, como o Gabinete Institucional da Presidência da República e a Anvisa, e a rede de vigilância. "O pior neste momento é a insegurança. Tomar remédios para gripe comum não adianta contra a Influenza A, e ainda pode mascarar ou atenuar sintomas da doença", alerta o ministro. "Temos medicamento adequado suficiente estocado na rede de hospitais públicos para atender os suspeitos de terem contraído a doença".

Controle intensificado

Com o alerta contra a doença na fase 5, a Anvisa anunciou ontem que vai monitorar todos os voos internacionais que chegarem ao Brasil, e não apenas os oriundos de áreas de risco. O controle sanitário nos portos também será intensificado. As embarcações deverão comunicar qualquer suspeita de gripe suína às autoridades sanitárias e permitir ações de controle.

Temporão descartou a possibilidade de suspender os voos ligando o Brasil aos países afetados. O ministro afirmou que o Ministério da Saúde segue rigorosamente as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Até o momento a entidade não emitiu nenhum comunicado orientando os países a tomarem medidas mais drásticas, como restringir o trânsito de pessoas. A última vez que a OMS recomendou suspensão de voos foi para Hong Kong, por 40 dias, o que reduziu o PIB local em 4,5%.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 12)(Norma Moura)