Título: Ibovespa encosta nas projeções do mercado
Autor: Pinheiro, Vinícius
Fonte: Gazeta Mercantil, 04/05/2009, Gazetainveste, p. B3

São Paulo, 4 de Maio de 2009 - Com uma valorização expressiva de quase 26% nos quatro primeiros meses do ano, o Ibovespa - índice que reúne as ações mais negociadas da BM&F Bovespa - já se encontra próximo dos níveis projetados pelo mercado financeiro para serem alcançados apenas em dezembro. Após o leve ganho de 0,13% na última sexta-feira, o indicador de referência da bolsa brasileira encerrou abril em 47.289 pontos.

Como foram realizadas entre o final de 2008 e o início deste ano, as projeções embutem parte da visão mais pessimista daquele momento. A melhora do cenário, ainda que tênue, motivou as equipes de análise de algumas corretoras a revisar as estimativas, mas a maioria ainda aguarda sinais mais consistentes de recuperação antes de promover mudanças.

Entre as corretoras que decidiram revisar os números está a Ágora. Segundo o economista-chefe da instituição, Álvaro Bandeira, a projeção atual de 49 mil pontos para o Ibovespa no final deste ano leva em conta a perspectiva de que as empresas comecem a apresentar uma recuperação a partir do segundo semestre. "Mas após os dados divulgados recentemente, começamos a acreditar que a retomada pode acontecer já neste trimestre", afirma.

Bandeira atribui a retomada da confiança do investidor à melhora dos indicadores econômicos. Para ele, mesmo números considerados ruins, como o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, que registrou queda de 6,1% no primeiro trimestre, trouxeram novidades positivas, como o aumento nos gastos com consumo. A melhora nos balanços dos bancos norte-americanos e a redução dos temores de novas quebras também contribuíram para a alta das ações.

Nem mesmo notícias potencialmente negativas como a ameaça de pandemia de gripe suína - justificativa para a queda generalizada das ações na última segunda-feira - parecem abalar o bom momento do mercado. A baixa das bolsas durou apenas um dia, mesmo com o aumento do nível de alerta da doença.

Não por acaso, o movimento de valorização tem sido comandado pelos investidores de fora do País, cujo fluxo para a compra de ações somava R$ 4,7 bilhões no ano até a última segunda-feira. Para o professor Ricardo José de Almeida, do Ibmec São Paulo, essa é um das principais razões para a melhora do mercado, ao lado da redução dos juros. "Com taxas menores, os recursos aplicados em renda fixa devem migrar para o consumo ou para a bolsa, e qualquer um desses cenários favorece os resultados das empresas", destaca.

Apesar da melhora nas expectativas, a maior parte dos analistas ainda prefere esperar dados mais consistentes antes de revisar as projeções para a bolsa. "Para que a recuperação se sustente, as empresas precisam mostrar que os fundamentos mudaram, o que ainda não aconteceu", afirma a chefe de análise da Banif Securities, Catarina Pedrosa.

O economista José Góes, WinTrade, tem opinião semelhante e credita a alta das ações nos últimos meses a uma correção dos exageros cometidos pelo mercado nos momentos mais dramáticos da crise. A corretora, que projeta o Ibovespa a 53 mil pontos em dezembro deste ano, não tem planos de revisar o número. "No final do ano, quando divulgamos a estimativa, a pergunta era se não estávamos otimistas demais", lembra.

O economista-chefe da Souza Barros, Clodoir Vieira, avalia que a volatilidade no mercado acionário deve continuar nos próximos meses e recomenda cautela ao investidor que se animou com a disparada das ações. Segundo o analista de investimentos da Spinelli, Jayme Alves, ainda existe espaço para novas altas, desde que surjam evidências de retomada nos níveis de produção das companhias afetadas pela queda da demanda mundial.

Com a valorização recente, o Ibovespa já bateu pelo menos uma das projeções: a da Planner Corretora. Mesmo assim, a equipe de análise mantém a perspectiva de que o principal índice da bolsa encerre o ano em 44 mil pontos. A corretora informa, porém, que segue monitorando os dados divulgados e não descarta mudanças, caso a perspectiva de melhora econômica se sustente.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Vinícius Pinheiro)