Título: Retirada em Fukushima
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 26/03/2011, Mundo, p. 27

Quinze dias depois do terremoto seguido de tsunami, que causou a morte de cerca de 10 mil pessoas e deixou mais de 400 mil desabrigados, o Japão ainda luta contra a ameaça de um acidente nuclear de graves proporções na usina de Fukushima, que sofreu sérios danos nas estruturas de três dos seis reatores. Vazamentos de radiação continuam a ser detectados e um inquérito foi aberto pelo governo para descobrir a origem do escape. O primeiro-ministro Naoto Kan admitiu, em pronunciamento pela TV, que a situação permanece ¿muito imprevisível¿. Em uma demonstração de que são remotas as chances de controlar a situação no curto prazo, as autoridades japoneses retomaram os esforços para retirar os últimos moradores que continuam no perímerto de 20km a 30km da central.

Novos vazamentos foram registrados ontem em Fukushima, e a Agência Nuclear Japonesa afirmou que a pressão dentro do reator 3 está estável e os técnicos não acreditam que as estruturas de contenção possam estar quebradas ou rachadas. Uma das teorias é de que a estrutura que contém as varetas de combustível nuclear pode ter sofrido algum dano estrutural. O governo também confirmou que altos níveis de radiação foram detectados nos reatores 1 e 2. As operações de resfriamento foram suspensas parcialmente depois da contaminação de três funcionários.

O premiê japonês reconheceu que as condições na central nuclear permanecem delicadas e precisam de extremo cuidado. ¿Continuamos trabalhando para que a situação pare de se agravar, e temos de continuar vigilantes¿, disse Kan. ¿Trabalhadores da Tepco, membros da Defesa Civil, da polícia e bombeiros de Tóquio e Osaka, além de outras áreas, estão arriscando a vida para controlar a situação em Fukushima.¿

As autoridades japonesas registraram que substâncias radioativas se dispersaram para longe do reator, o que pode aumentar os riscos de contaminação do ar e do mar. A retirada dos moradores que estavam mais próximos da usina recomeçou ontem, sem muito alvoroço. Quem estava nessa área já tinha recebido a orientação de se mudar ou permanecer em casa com portas e janelas vedadas.

Alimentos O Japão proibiu a venda de verduras e leite procedentes da região de Fukushima no começo da semana. A contaminação da rede de abastecimento de água de Tóquio, que assustou os japoneses, já foi controlada. O controle sobre peixes e frutos do mar também aumentou depois de terem sido encontradas altas doses de césio e iodo radioativos na região costeira próxima à usina.

A União Europeia (UE), os Estados Unidos, a Austrália, o Canadá, a Rússia e a China impuseram barreiras à importação de alimentos originários das províncias afetadas pela radiação. Por causa do incidente na central de Fukushima, a UE decidiu ontem, durante uma reunião de cúpula em Bruxelas, que todos os reatores do continente, localizados em 14 países do bloco, devem passar por severa fiscalização nos sistemas de segurança.