Título: O interminável pesadelo que ronda a PeopleSoft
Autor: Vicente Vilardaga
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/09/2004, Telecomunicações & Informática, p. A-15

Empresa tratou de esvaziar a ameaça da Oracle anunciando parcerias. O fantasma da Oracle ronda a conferência anual da PeopleSoft, a Connect 2004, que começou ontem, em São Francisco, Califórnia (EUA). O presidente da PeopleSoft, Craig Conway, inaugurou o evento, que teve 15 mil inscrições neste ano, falando da rival. "Vocês já tiveram um pesadelo que nunca termina. É o que acontece (com a PeopleSoft) nos últimos quinze meses", disse.

O problema é o insistente esforço da Oracle, iniciado em meados do ano passado, para comprar a PeopleSoft. Até quinze dias atrás, o negócio, avaliado em US$ 7,7 bilhões, estava bloqueado por um tribunal norte-americano, que analisava a possibilidade de concentração excessiva no mercado de softwares de gestão integrada (ERP). Mas a aquisição foi liberada pela Justiça, que não viu entraves monopolistas na compra, e a PeopleSoft voltou a sentir uma forte apreensão corporativa, temendo a descontinuidade de produtos e demissões em massa.

Para dar garantia aos clientes, a PeopleSoft introduziu uma cláusula de indenização em caso de seus produtos não serem continuados por eventual comprador.

"Isso não significa que a Oracle vai comprar a PeopleSoft", continuou Conway. "Essa decisão poderá ser modificada. E há também os direitos dos acionistas que precisam ser preservados".

A Oracle quer ampliar sua presença no mercado de ERP com os bem-sucedidos e flexíveis softwares da concorrente. E a PeopleSoft, que se sente em condições de permanecer e crescer no mercado de maneira independente, tenta impedir o avanço da rival, apoiada, agora, em duas plataformas, a Enterprise e a Enterprise 1. A Enterprise 1 foi herdada da JD Edwards, empresa que comprou no ano passado, um pouco antes da saga da Oracle começar. "Queremos fazer uma companhia mais forte", disse Conway. "Não estamos desacelerando ou abandonando os compromissos com os nossos clientes".

Na abertura da Connect 2004, o que se viu foi uma ofensiva para tranqüilizar o mercado. Depois do lamento inicial e das críticas à iniciativa de aquisição hostil, Conway tratou de esvaziar a ameaça da Oracle com a apresentação das realizações da PeopleSoft nos últimos meses e com o anúncio de um acordo com a IBM que envolverá investimentos de US$ 1 bilhão nos próximos cinco anos.

O acordo, que envolve distribuição conjunta das aplicações da plataforma WebSphere, da IBM, baseada em padrões abertos, e dos softwares de negócios da PeopleSoft, foi classificado ontem, durante o evento, como "histórico" pelas duas companhias norte-americanas. "Os clientes estão procurando soluções inovadoras e com a combinação das aplicações da PeopleSoft com a nossa infra-estrutura poderemos ajudá-los a superar seus desafios mais rapidamente", afirmou Steve Mills, vice-presidente da IBM Software Group.

A aliança permitirá que a PeopleSoft e a IBM ofereçam uma solução completa de negócios totalmente voltada para a internet. A solução atenderá desde as necessidades de infra-estrutura até as aplicações do nível tático estratégico dos clientes. As duas empresas trabalharão para desenvolver e oferecer soluções novas e pré-integradas para o mercado e criarão um laboratório de interoperabilidade em processos de negócios. Inicialmente, a oferta conjunta da PeopleSoft e da IBM atingirá os mercados financeiro, de seguros e de telecomunicações. O acordo não contém cláusulas de exclusividade.

No balanço do trabalho dos últimos doze meses, Conway destacou três grandes iniciativas nas quais a empresa teve sucesso. A primeira foi a redução do Custo Total de Propriedade (TCO) de sua plataforma, com redução de tempo e custo de instalação, configuração e atualização. "Em vez de desenvolver novas versões de nossos produtos, queremos melhorar a experiência de utilizá-los", disse.

A outra iniciativa foi a incorporação da JD Edwards e o bom aproveitamento da plataforma adquirida. "Fizemos mais melhorias no Enterprise 1 em um ano do que a JD Edwards em cinco anos", afirmou. Finalmente, Conway falou nos novos produtos lançados, citando, por exemplo, os avanços na solução de CRM.

Conway se recusou a responder qualquer pergunta sobre a Oracle na entrevista que concedeu após a abertura da conferência. Mas voltou a dizer que ainda restam alguns trunfos para a PeopleSoft impedir a compra. Ele lembrou, por exemplo, que a Comissão Européia ainda não aprovou a aquisição e que, se for o caso, poderá usar um recurso chamado de "poison pill" (pílula de veneno, em inglês) ¿ no caso, promover uma emissão de ações para diluir a participação adquirida de maneira hostil, de modo a evitar o controle da empresa pela concorrente.

A PeopleSoft está movendo uma ação contra a Oracle na Justiça norte-americana pedindo indenização de US$ 1 bilhão, por tentativa de destruição de seu negócio.

kicker: Acordo com a IBM é considerado "histórico" e envolverá gastos de US$ 1 bilhão