Título: Bradesco lucra menos com alta da inadimplência e revisa expansão
Autor: Nascimento,Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/05/2009, Finanças, p. B1

São Paulo, 5 de Maio de 2009 - Os reflexos da desaceleração da atividade econômica na indústria do crédito e no aumento da inadimplência foram os principais fatores que influenciaram a queda de 9,6%, no comparativo de 12 meses, no lucro líquido ajustado do Bradesco no primeiro trimestre deste ano, para R$ 1,72 bilhão, disse ontem o vice-presidente e diretor de relações com investidores do banco, Milton Vargas. Diante de um cenário interno impactado pela crise financeira mundial, o banco está reavaliando suas projeções de crescimento no crédito para 2009 e cortou quase à metade os planos de expansão da rede de agências, agora para um número próximo de 100 novas lojas este ano ante as 180 planejadas anteriormente.

"A expansão será em ritmo menor, mas estamos preservando o plano de investimento porque olhamos no longo prazo. A crise não ficará aí indeterminadamente e acreditamos que o mercado interno tem um grande potencial", afirmou Vargas, estimando que a crise deverá se estender até meados de 2010. Neste ano, o Bradesco já inaugurou 16 agências e abriu mais 151 pontos de atendimento, listou o executivo, observando que foram R$ 793 milhões investidos em infraestrutura e tecnologia.

O lucro líquido ajustado do Bradesco no primeiro trimestre caiu 4,6% ante o último quarto do ano passado, quando registrou ganhos de R$ 1,8 bilhão. Em um ano, o retorno sobre o patrimônio líquido médio passou de 28,7% para 21%, em março. Ao final de dezembro estava em 23,8%. Se considerado o lucro líquido publicado, ou seja, sem efeitos extraordinários, houve queda de 18% em doze meses, mas alta de 7,4% sobre o último período de 2008.

O desempenho foi afetado pela desaceleração nas concessões de crédito e pelo aumento da inadimplência, com consequente elevação das provisões. No primeiro trimestre, as despesas com provisões para crédito de liquidação duvidosa somaram R$ 2,92 bilhões e deram um salto de 75,2% em um ano e de 48,8% ante dezembro, o que elevou o saldo de provisionamento para R$ 11,42 bilhões, um avanço de 41% ante igual mês de 2008 e de 11,3% no trimestre, com um excedente de R$ 3,1 bilhões acima do exigido pelo Banco Central. No período, o banco fez provisões extraordinárias de R$ 177 milhões para as operações de cartão de crédito, referente à compra a vista e parcelamentos de lojistas, efeito que o Bradesco considera que não deverá ocorrer nos próximos trimestres. Conforme Domingos de Abreu, diretor-executivo da instituição, apesar do provisionamento, a inadimplência se manteve estável no segmento de cartões.

Entretanto, a redução da atividade afetou a capacidade de pagamento de empresas e famílias, o que levou a um aumento dos índices gerais de inadimplência, prevista por Vargas para continuar em curva ascendente nos próximos dois trimestres, até um pico de 4,9% sobre o total da carteira em agosto e setembro, voltando à estabilidade no final de 2009. No encerramento de março, o índice de inadimplência acima de 90 dias ficou em 4,3% sobre o total da carteira do banco, comparativamente aos 3,6% de dezembro. Na pessoa física subiu de 6,7% para 7,6%, enquanto nas micro, pequenas e médias empresas aumentou de 2,7% para 3,6% e nas grandes empresas subiu de 0,5% para 0,8%.

Paralelamente, o total da carteira de crédito do Bradesco ficou praticamente estável (queda de 0,5%) em relação ao último trimestre de 2008, alcançando R$ 214,29 bilhões em março. No comparativo anual, a evolução é de 26,5%. Vargas disse que a estabilidade da carteira deu-se por conta de retração na demanda, em virtude da redução da atividade e também de fatores sazonais, e trabalha com uma perspectiva de melhora nos próximos trimestres. O executivo ressaltou que o desempenho não decorreu de um freio nas concessões, por menor oferta, e que o Bradesco tem liquidez, capacidade operacional e pretende crescer no crédito.

O departamento econômico do Bradesco, observou Vargas, trabalha com uma estimativa de média de 12% de alta em 2009 para o mercado brasileiro de crédito, ante os 15% previstos no final de 2008. "Esse número também dependerá do comportamento dos bancos públicos, que têm crescido um pouco mais. O Bradesco cresce sempre acima do mercado", observou, informando, contudo que as projeções feitas no final do ano passado, de crescimento entre 13% e 17% para o estoque total do banco em 2009, estão sendo revistas para baixo. "Talvez fiquemos nos 13%, ou um pouco abaixo disso." Em 2008 a carteira do banco cresceu 33,4% sobre o ano anterior.

O estoque de crédito para pessoas físicas alcançou R$ 73,63 bilhões em março, com alta de 18,3% em um ano e queda de 0,2% ante dezembro. Na pessoa jurídica o saldo somou R$ 140,66 bilhões, evoluindo 31,2% em doze meses e com retração de 0,6% ante o último trimestre. As grandes empresas responderam por R$ 81,8 bilhões do total, com alta de 33,1% e queda de 1,7%, respectivamente. Já as micro, pequenas e médias totalizaram R$ 58,85 bilhões, alta de 28,7% em um ano e de 0,9% no trimestre.

O desempenho no crédito levou a área a contribuir menos para o resultado, passando de um percentual médio entre 25% e 26% (que deve voltar em 2010, segundo Vargas) para 15% no trimestre. O resultado, contudo, foi compensado com bons números nas áreas de seguros e tesouraria e com a melhora da eficiência. Os resultados com títulos e valores mobiliários saltaram de uma contribuição de 6% do total para 17%, em um ano. O índice de eficiência passou de 42% em dezembro a 41,5% em março.

Dono de uma fatia de 40% da VisaNet, o Bradesco informou ontem que a empresa pretende reiniciar o processo de abertura de capital nos próximos 90 dias, mas que o lançamento no mercado, como da primeira, dependerá de condições favoráveis para os negócios. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Iolanda Nascimento)