Título: Em dia de euforia generalizada bolsa ultrapassa 50 mil pontos
Autor: Feltrin,Luciano
Fonte: Gazeta Mercantil, 05/05/2009, Capital Aberto, p. B4

São Paulo, 5 de Maio de 2009 - O surgimento de indicativos de que a economia global possa estar se recuperando, apoiado principalmente em dados que mostram que o ritmo da atividade industrial chinesa atingiu o melhor nível desde julho, desencadeou um movimento generalizado de compras em bolsa. O Ibovespa acompanhou o ritmo e subiu 6,59%, aos 50.404 pontos. Foi a primeira vez desde 26 de setembro que a bolsa local ultrapassa a barreira dos 50 mil pontos. Naquela ocasião, o índice estava em 50.782 pontos. O giro financeiro da sessão somou R$ 7,2 bilhões, o maior desde 8 de outubro se não forem levados em consideração pregões em que há exercício de compra e venda de opções. No ano, o índice já acumula ganhos de mais de 34%.

As altas no mundo foram mais modestas, mas também bastante consideráveis. Nos Estados Unidos, o índice S&P 500 subiu 3,39% e o Dow Jones, 2,61%. Na Europa, a bolsa de Frankfurt ganhou 2,79%. Por um feriado local, não houve pregão na bolsa de Londres ontem.

No Brasil, o movimento teve reflexos positivos sobre as ações de empresas ligadas a matérias-primas e construção civil. "Os investidores estrangeiros voltaram com força. A Bovespa foi o destaque entre as principais bolsas do mundo. A alta das empresas de commodities tem relação direta com os dados da recuperação chinesa", afirma Nicholas Barbarisi, sócio e diretor de operações da Hera Investment "Já os ganhos dos papéis de construção civil devem-se à expectativa da normalização do crédito".

Os principais ganhos do dia foram registrados pelas ações da ALL, cujas units tiveram valorização de 14,7%, para R$ 13, e os papéis da Cyrela Realty, que fecharam o pregão com alta de 14%, valendo R$ 15,30. A boa performance foi acompanhada por Gafisa, Vale, Gerdau, Embraer e Rossi. Cada uma dessas ações subiu pelo menos 10%. "Enquanto as bolsas norte-americanas estão na fase de zerar perdas, nós ainda temos - principalmente em ações como Vale, Petrobras e siderúrgicas - potencial de ganhos reais", projeta Jayme Alves, analista de investimentos da Spinelli.

O especialista destaca que, caso o movimento de retorno de fluxo em bolsa seja mantido, ações de menor liquidez, conhecidas no mercado como small caps, também terão espaço para continuar subindo. "Creio que os preços de ações de empresas como Confab, Ferbasa e Duratex ainda têm espaço para correções e novos ganhos", afirma.

O dia, cujo início foi marcado pelo otimismo com a economia chinesa, ganhou contornos de euforia com a divulgação de números considerados positivos na área de construção civil nos Estados Unidos. Os gastos com construção norte-americanos subiram 0,3%$ em março, somando US$ 969,7 bilhões. O índice que mede o número de contratos de compra e venda de imóveis usados também teve bom desempenho. Alta de 3,2% em março quando comparado com fevereiro, quando o indicador apontou avanço de 2,1%. "Além do fato de a economia chinesa sinalizar que continuará crescendo, o dia trouxe a boa notícia de que há boas perspectivas em relação à retomada de outras economias globais, principalmente os Estados Unidos", aponta Octávio Vaz, gestor de renda fixa da Global Equity.

Na avaliação do profissional, entretanto, é muito prematuro dizer se o movimento de alta e de retorno definitivo dos grandes investidores à bolsa brasileira é sustentável. "As bolsas permanecerão guiadas pelas próximas divulgações de indicadores macroeco-nômicos. Também terá grande peso a divulgação detalhada do teste de estresse a que estão sendo submetidos os bancos nos Estados Unidos", pondera. "Ainda há muita coisa no radar antes de podermos afirmar com segurança que a economia voltará à rota de crescimento", afirma o gestor.

Retorno à normalidade

Com ações de empresas de setores ligados a matérias-primas e construção civil a preços considerados baixos, os investidores deixaram de lado os papéis de setores considerados defensivos, que vinham sendo apontados como refúgio nos momentos mais dramáticos da crise. É o caso de empresas elétricas e de telecomunicações, que sofreram menos nos meses anteriores, mas ontem ficaram para trás. As ações de Eletropaulo e Telemar, por exemplo, estiveram entre as poucas do índice que encerraram o pregão em baixa.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Luciano Feltrin)