Título: Desempenho fraco compromete o PIB
Autor: Monteiro,Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/05/2009, Brasil, p. A5
Brasília, 6 de Maio de 2009 - Apesar da forte retração da produção industrial registrada no primeiro trimestre do ano, os dois principais ministros econômicos do governo, Guido Mantega, da Fazenda e Paulo Bernardo, do Planejamento, consideram que a produção industrial já demonstra sinais de recuperação a partir de março. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, concorda que há sinais de recuperação, mas ele avalia como "tênues".
O dirigente industrial demonstra preocupação com o impacto que a queda da indústria causará no Produto Interno Bruto (PIB). Para ele, o dado trimestral da indústria derruba o PIB entre janeiro e março. Dessa forma, o Produto cairia pelo segundo trimestre consecutivo, causando a chamada recessão técnica. No último trimestre de 2008, o PIB havia caído 3,6% sobre o trimestre anterior. "Isso significa dizer que há uma recessão técnica configurada", avalia o presidente da CNI.
Mantega afirmou que a "forte" queda da indústria não surpreendeu o governo. "É uma queda forte, parecida com a que tivemos no último trimestre do ano passado. Já esperávamos isso, mas (o resultado) não capta o que já vem acontecendo desde março", disse à Agência Brasil. Porém, a redução da produção do setor industrial superou as previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que era da ordem de 4,4% no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2008. Os técnicos do instituto também não descartam a hipótese de uma recessão técnica no primeiro trimestre.
Retração
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou ontem que a produção industrial cresceu 0,7% em março sobre fevereiro, entretanto, despencou 10% sobre igual mês do ano anterior. No trimestre, a redução foi de 14,7% na comparação com igual etapa de 2008 e 7,9%, se comparar com o último trimestre do ano passado.
Para Mantega, a partir de março e abril a economia já voltou a acelerar e apresentar crescimento. "Estamos olhando para o passado, mas para o presente a economia está melhorando nitidamente", complementou.
Sinais de reação
Apesar de o resultado da produção industrial ter sido negativo entre janeiro e fevereiro, o ministro Paulo Bernardo enfatizou que o setor já começa a apresentar sinais de reação. "Há sinais claros de que a economia demonstra recuperação; estamos animados que o ritmo será mantido e será acelerado (nos próximos meses)", estimou o ministro do Planejamento que completou dizendo que "é importante lembrar que [a atividade] já sobe por três meses seguidos e vai melhorar. O trimestre foi ruim, mas, com certeza, teremos um resultado expressivo (nos próximos meses)".
O presidente da CNI concorda que a alta de 0,7% da produção industrial em março, sobre fevereiro, mostra que "foi interrompida a queda-livre" experimentada pela produção industrial no período que compreende o final de 2008 e início de 2009. "Há sinais tênues de recuperação da atividade econômica; espero que isso se mantenha no segundo trimestre", declarou Monteiro Neto.
Impacto da crise
No entanto, o dirigente da CNI considera que tal reação ainda é insuficiente para recuperar os níveis de atividade observados no período pré-crise. "Eu diria que ainda estamos muito longe disso. E o resultado mostra quanto a indústria foi afetada pela crise mundial", analisou.
Monteiro Neto acrescentou que a forte queda da produção industrial no primeiro trimestre "afetará" diretamente o desempenho do PIB do primeiro trimestre, que deve cair pelo segundo trimestre consecutivo. "Isso é um ponto de preocupação. Se ainda temos uma forte queda na produção industrial, isso indica que, certamente, poderemos ter um resultado negativo do PIB no primeiro trimestre deste ano". Para a CNI, a economia nacional deverá registrar crescimento próximo de zero em 2009, puxada, em parte, pela indústria que deve apresentar retração para um patamar entre 2,5% e 3%.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Viviane Monteiro)