Título: Brasil perderá espaço no comércio externo até 2030
Autor: Vizia,Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 06/05/2009, Brasil, p. A8

São Paulo, 6 de Maio de 2009 - O Brasil deve perder participação nas exportações mundiais de produtos manufaturados até 2030. O foco no mercado interno deverá minimizar a internacionalização das empresas brasileiras e a busca pelo mercado externo, aponta estudo elaborado pela FGV Projetos e pela consultoria Ernst & Young.

Nos próximos 22 anos as importações mundiais de manufaturas devem crescer 3,7% ao ano, enquanto as exportações brasileiras neste setor tendem a avançar 1,8%, totalizando US$ 182,6 bilhões em 2030. No mesmo ano, as exportações totais devem somar US$ 306 bilhões, mas o saldo da balança deverá ser de apenas US$ 42 bilhões, muito próximo do saldo de US$ 40 bilhões auferido em 2007.

O Brasil se manterá competitivo em apenas dois segmentos de produtos manufaturados: telecomunicações, especialmente em aparelhos celulares; e em transportes pesados, com foco em aviões comerciais e automóveis, avalia Fernando Garcia, coordenador do núcleo de economia da FGV Projetos. "Mesmo nesses dois setores perderemos participação no mercado global, mas isso não significa que os negócios não vão crescer, essas indústrias terão uma boa performance, principalmente no mercado interno e na América Latina", salientou o economista.

O crescimento da demanda interna por importados, até 2030, será de 5,6% ao ano, superior à taxa de expansão de 1,8% projetada para as exportações brasileiras de manufaturados, "portanto teremos um saldo menor", pondera Garcia. O estudo considera crescimento de 4% ao ano para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Mesmo em um cenário macroeconômico mais favorável, com crescimento de 4,6% da economia, o avanço brasileiro na exportação de manufaturados será de 2,7% ao ano, "ainda insuficiente para reverter a tendência de perda de saldo neste segmento", argumenta o coordenador da FGV Projetos. Ele destaca que esta situação deve manter o perfil da atual pauta de exportações do País, na qual predominam produtos básicos, como commodities agrícolas, e semimanufaturados, como carnes cortadas e congeladas.

A participação do Brasil no mercado global de manufaturas, atualmente em 1,1%, será inferior a 1% em 2030. "Isso porque nossa dinâmica vai ser muito mais interna", explica Garcia. Ele avalia que o crescimento esperado para o consumo das famílias no País nos próximos 22 anos é de 3,8% ao ano, e que o País viverá um aumento da demanda doméstica por bens industriais entre 3,4% a 4,8% neste período. Um dos principais demandantes será o segmento de materiais de construção, com os investimentos imobiliários crescendo 4,4% ao ano até 2030. Outro fator que colaborará para um maior consumo é a projeção de aumento de 2,5% dos salários médios anuais, inferior apenas aos aumentos salariais previstos para a Coréia do Sul (2,8%) e China (6,2%)

O ímpeto de internacionalização das empresas brasileiras será menor devido a grande escala de consumo do mercado doméstico brasileiro. O estudo aponta que alguns dos tradicionais problemas estruturais do País também serão um empecilho à conquista do mercado externo, tais como gargalos na infraestrutura, sistema tributário que encarece o preço final dos bens, e investimentos insuficientes em pesquisa e desenvolvimento. Outro fator apontado como entrave é o custo da energia, que deve crescer 60% nos próximos 22 anos, com o custo da energia elétrica aumentado acima de 30% no mesmo intervalo.

O estudo considera que o preço médio do barril de petróleo deve ficar em torno de US$ 60, valor 117% superior ao preço médio dos últimos 17 anos. A taxa de câmbio considerada foi de R$ 2,10 por dólar. Garcia estima ainda que este ano o PIB brasileiro crescerá 1,5%.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Bruno De Vizia)