Título: CNI reage a desafio de embaixador chinês
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 30/03/2011, Economia, p. 13

Confederação industrial ataca manipulação cambial e práticas comerciais da China

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, reagiu ontem ao desafio feito pelo embaixador da China, Qiu Xiaoqi, para que empresas do país se capacitem para exportar ao mercado chinês. Para Andrade, o diplomata está equivocado ao dizer que o país asiático está aberto não apenas às commodities (produtos básicos com cotação internacional, como minérios e itens agrícolas), mas também aos manufaturados brasileiros. ¿O câmbio de lá é artificial e o daqui é livre. Temos problemas de competitividade, mas resolvemos as coisas democraticamente, por consenso¿, disse, ressaltando as diferenças entre os parceiros comerciais.

Na avaliação do dirigente, a presidente Dilma Rousseff deve aproveitar a viagem oficial à Pequim, no próximo mês, para cobrar do governo chinês respostas sobre pontos controversos da relação comercial bilateral, como contrabando, pirataria e outras práticas desleais. Andrade reiterou que os industriais conhecem bem as oportunidades de negócios na China e encontram dificuldades para oferecer produtos de qualidade igual ou superior aos competidores locais.

O presidente fez as declarações logo após a cerimônia de lançamento da agenda legislativa 2011 da CNI, focada nos ganhos de competitividade e na desoneração dos investimentos. ¿É preciso ter senso de urgência. Não temos mais tempo a perder¿, alertou Andrade, que classificou o Brasil como uma ¿economia de alto custo¿. Ele lembrou que os pesos da carga tributária, dos encargos salariais, da logística e da energia sobre a atividade produtiva já trouxeram prejuízos irreparáveis. ¿Depois das perdas de mercado externo e interno para produtos importados, fábricas estão fechando. O próximo capítulo triste poderá ser nos índices de emprego.¿

Com a presença de parlamentares e de lideranças empresarias, a cerimônia lançou a agenda, que lista 128 projetos de lei considerados fundamentais pela entidade ¿ o documento foi entregue aos presidentes da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O texto foi elaborado após discussão com 27 federações estaduais e 53 associações setoriais. Questões tributárias, trabalhistas, ambientais e de desenvolvimento da infraestrutura estão contempladas. Maia prometeu engajamento na busca de acordos para aprovação de ¿projetos que protejam a indústria nacional¿. Sarney, por sua vez, disse que as mudanças na lei são insuficientes para garantir o desenvolvimento sustentável. ¿O parlamento não é a bacia das almas para todos os problemas. Precisa de um movimento nacional em favor da educação e da infraestrutura¿, justificou.

Em resposta aos gargalos logísticos, a CNI sugeriu ações prioritárias em infraestrutura de transporte, divididas por regiões, começando pelo Norte. A saída passa por investimentos via concessões ou em Parcerias Público-Privadas (PPP). ¿Se o governo deixar, a iniciativa privada pode colaborar para superar entraves de logística, o que acabaria levando a custos menores para a produção¿, sublinhou Andrade.

A entidade aproveitou para apresentar estudo que compara o Brasil a outros 13 países de características sociais, econômicas e de inserção no mercado global semelhantes. O mercado brasileiro não lidera em nenhum dos quesitos de competitividade, ficando nos últimos lugares em investimentos diretos.

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