Título: Dólar preocupa, mas alta dos preços compensa
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Fonte: Gazeta Mercantil, 07/05/2009, Agronegócio, p. B12
7 de Maio de 2009 - Depois de sair do patamar de R$ 1,60 para R$ 2,40 em 40 dias e de colocar diversas empresas em dificuldades financeiras, a cotação da moeda americana começa agora a causar preocupação pela razão inversa: a forte tendência de desvalorização. Nos últimos três dias, a queda da moeda americana acumula 3,2% no Brasil. Por enquanto, está havendo um reajuste generalizado de preços internacionais em dólar, sobretudo em algumas carnes, como as de frango e nas commodities agrícolas. Mas alguns setores já estão sendo prejudicados pela retração da moeda americana, como o sucroalcooleiro.
Nesta semana, as negociações de venda de etanol aos Estados Unidos praticamente foram paralisadas com o recuo do dólar do patamar de R$ 2,20 para R$ 2,10. Os negócios externos, ainda que poucos, estavam ajudando a enxugar o mercado interno e chegou até a provocar alta de preços às usinas há alguns dias. "Mas agora, a remuneração ficou muito apertada para exportação", diz Tarcilo Rodrigues da Bioagência.
Na última sexta-feira, o dólar comercial fechou em R$ 2,1820, recuou na segunda-feira, para R$ 2,1300, o Banco Central interveio e no dia seguinte, subiu para R$ 2,1480, mas a entrada agressiva de capital estrangeiro voltou a derrubar o valor da moeda ontem para R$ 2,1120.Desde meados de março, o câmbio no patamar de R$ 2,30, e alguma recuperação no mercado americano de etanol proporcionaram o fechamento de alguns negócios ao mercado americano, conta Rodrigues. "Foram cerca de 200 milhões de litros", acrescenta. A exportação chegou até a fazer reagir os preços do álcool no mercado interno que vinham de quedas sucessivas. Entre 3 e 24 de abril, o litro do hidratado valorizou-se 21%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), retomando queda na semana seguinte.
Carnes
Os mercados de carnes, sobretudo de frango e de bovinos, não estão sentindo os efeitos da desvalorização do dólar, sobretudo porque iniciou nos últimos dias uma elevação dos preços das carnes, tanto no mercado interno quanto no externo. "Ainda, como os contratos não vêm sendo feitos para entrega muito futura, não está havendo necessidade de renegociação", diz Ivanir Rocha, trading Meat Center. Ele informa que os preços estão sendo reajustados bem além dessa desvalorização da moeda americana.
O mesmo vem ocorrendo com a carne de frango, segundo Roberto Kaefer, diretor-presidente da Globoaves, uma das maiores exportadoras do País. De acordo com ele, os negócios com frango pequeno (griller) no Oriente Médio está sendo fechado a US$ 1,850 mil por tonelada, preço que em março estava em US$ 1,2 mil. O peito de frango também está sendo negociado a patamares de US$ 2,9 mil por tonelada, ante as US$ 2,2 mil anteriores. Ele avalia que, além da menor oferta de frangos no mercado, a reação nos preços também se deve aos embargos à carne suína em muitos países produtores. "Claro que estávamos contando com um câmbio médio de R$ 2,20 e, no momento em que ele sinaliza patamar de R$ 2,10, temos uma perda de 4,5%. Mas, neste momento, estamos conseguindo agregar preços aos nossos produtos", avalia Koefer.A forte entrada de dólares no País também está acendendo a luz amarela no campo, segundo Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná). "Por enquanto as elevações nos preços das commodities como a soja, açúcar e nas carnes têm compensado qualquer redução da taxa do dólar no país. Claro que dólar alto é bom para quem exporta muito, como é o caso das cooperativas brasileiras, mas o setor só vai se preocupar muito mesmo se o dólar cair abaixo de R$ 2,00", avisa Turra. A preocupação com a queda se justifica, porém, porque no primeiro trimestre de 2009 o dólar valorizado praticamente sustentou os ganhos do cooperativismo brasileiro.
Segundo informações da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as cooperativas exportaram US$ 668,4 milhões de janeiro a março deste ano, contra US$ 761,7 milhões em 2008. Houve uma queda de 10,23% nas quantidades de produtos comercializadas que explica a redução, mas quando se confronta o valor recebido em Reais pelos embarques do setor houve, na verdade, um aumento de 16,87% na receita que atingiu R$ 1,55 bilhão, em conseqüência da elevação da taxa de câmbio.
Fundamentos do câmbio
Prever a direção do câmbio em meio a toda turbulência mundial está fora de cogitação para economistas, mas a boa oportunidade de ganhos do Brasil indica que a tendência de atração de dólares para o País deve continuar. "O mercado brasileiro tem juros reais bastante atraentes, oferecendo oportunidades de ganhos na renda fixa, variável e em investimentos diretos, além de manter bons fundamentos. Isso significa que temos uma boa probabilidade de que haja boa pressão baixista sobre o dólar", avalia Fábio Silveira, economista da RC Consultores. Esse cenário também está relacionado à duração dessa segunda bolha, inflada pela duplicação da base monetária dos Estados Unidos. "Pode sim haver outro movimento de fuga de capitais. O cenário é muito frágil".
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 12)(Fabiana Batista e Norberto Staviski)