Título: Vale flexibiliza a política de preços
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Fonte: Gazeta Mercantil, 11/05/2009, Indústria, p. C3
Rio de Janeiro, 11 de Maio de 2009 - A Companhia Vale do Rio Doce, maior produtora mundial de minério de ferro, adotou uma política de preços "mais flexível". Dessa forma, a mineradora brasileira se junta às concorrentes australianas BHP Billiton e Rio Tinto, afastando-se do sistema de preços referenciais adotado nos contratos anuais de fornecimento. "A Vale está pronta para explorar meios alternativos para definir o preço do minério de ferro", disse o diretor financeiro, Fábio Barbosa, na semana passada no Rio de Janeiro. Segundo o sistema atual, vigente há cerca de 40 anos, os produtores de minério de ferro fixam os preços em negociações anuais com as siderúrgicas.
O fim dos preços referenciais vai reduzir a tensão entre as produtoras e as siderúrgicas ao tornar a política de preços mais transparente e poderá estimular um aumento da produção, segundo o principal executivo da BHP, Marius Kloppers, que capitaneou a iniciativa de derrubada do sistema. O Rio Tinto e a BHP, respectivamente a segunda e terceira maiores exportadoras mundiais de minério de ferro, disseram no ano passado que não assinarão novos contratos baseados em cotações referenciais.
"Isso beneficiará o setor", disse Peter Arden, analista da Ord Minnett, uma afiliada do JPMorgan Chase & Co., a partir de Melbourne. As produtoras "têm de encontrar uma maneira de ajudar as siderúrgicas a se adaptar". Os preços referenciais do minério de ferro deverão cair 40% devido à retração da demanda por automóveis e materiais de construção, informou o Goldman Sachs JBWere Pty. Os preços do mercado à vista estão atualmente 31% inferiores aos US$ 92 por tonelada fixados para o minério de ferro australiano tipo fino nos contratos anuais, que venceram no dia 1 de abril passado, segundo a média dos preços divulgada pelas publicações Metal Bulletin e Steel Business Briefing.
"Preferimos os referenciais, mas o mercado concluiu que esse não é o único sistema disponível", disse Barbosa. "Estamos prontos para explorar todas as alternativas possíveis, se os clientes querem." Um mercado bipartido se desenvolveu na China, que suplantou o Japão como o maior comprador de minério de ferro nos últimos três anos, com um preço baseado no referencial e o outro no mercado à vista, disse Ian Ashby, presidente da divisão de minério de ferro da BHP. O mercado à vista, ou físico, cresceu mais rápido que o de minério de ferro a preços referenciais, disse. "O crescente mercado físico, junto com as prolongadas negociações anuais, que produziram resultados ambíguos, começou a minar o sistema referencial tradicional, disse Ashby.
A China atualmente consome até 80% de todo o minério de ferro negociado mundialmente e é o principal comprador do mercado à vista, disse o executivo da Vale. As negociações a preços referenciais, além de tudo, "levam as pessoas a um relacionamento marcado pelo atrito por meio ano, para depois tentar reparar isso na segunda metade do ano", disse Kloppers, recentemente.
A BHP Billiton considera que o tradicional sistema "benchmark" está acabando. Já a Rio Tinto acredita que será "inaceitável" o preço de referência para o mercado de minério de ferro ficar abaixo dos preços do mercado "spot". Os comentários de ambas foram feitos um dia após a Vale, defensora do sistema "benchmark", admitir que está preparada para a flexibilidade.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 3)(Bloomberg News e Reuters)