Título: Confiança pode levar a novo ciclo de valorização do real
Autor: Vizia,Bruno De
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/05/2009, Brasil, p. A7

São Paulo, 12 de Maio de 2009 - O governador de São Paulo, José Serra, manifestou ontem "forte preocupação" com um eventual retorno do ciclo de valorização do real frente ao dólar, que pode se reinstalar diante do clima de maior confiança que inspira a economia brasileira. "Efetivamente, a economia brasileira tem boas condições quando comparada às demais" destacou o governador, acrescentando que esse fator pode reinstaurar a política cambial pré-crise, classificada por ele como "cadeia da felicidade" e de "ciranda cambial".

Segundo Serra, a diferença entre os custo de captação do dinheiro no exterior e os altos juros que o Brasil oferecia gerou um esquema "Ponzi", ou piramidal, que favorecia especulações no mercado de câmbio. "As empresas utilizavam adiantamentos de contratos de câmbio (ACC) para captar dólares lá fora e aplicar na maior taxa de juros do mundo", explicou o governador, referindo à taxa básica de juros (Selic). Essa prática já teria provocado, no passado, piora do saldo comercial, e dependência desse ciclo. A limitação de endividamento dos estados voltou a ser criticada pelo governador. A Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece que os estados só podem comprometer um montante equivalente a até duas vezes sua receita corrente líquida, e os municípios em apenas uma vez, enquanto para o governo federal não há limitações de endividamento. "Cerca de 70% a 80% dos investimentos governamentais no Brasil são realizados pelos estados e municípios, que, no entanto, não podem realizar déficits, e tem menos espaço para realizar políticas anticíclicas", salientou Serra.

Com isso, se o estado perde receitas, tem que cortar despesas, restrição não vivida pelo governo federal, disse o governador de São Paulo. Ele citou o exemplo da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (CIDE), cobrada sobre combustíveis, da qual os estados recebem um percentual arrecadado. "No primeiro bimestre só recebemos 10% do que normalmente receberíamos, e isso vai na veia do corte de investimentos", lamentou o governador.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Bruno De Vizia)