Título: Private equity amplia prazo de investimento
Autor: Feltrin,Luciano
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/05/2009, Finanças, p. B3

São Paulo, 12 de Maio de 2009 - A crise tem provocado mudanças gradativas na indústria de private equity mundial. A continuidade de um cenário de indefinições tornou o ciclo de investi-mento dos fundos que compram participações em empresas mais longo. Por isso, vem mudando o perfil dos gestores, que já percebem a necessidade de envolvimento cada vez maior no dia-a-dia das companhias nas quais investem.

Essas são as principais conclusões de um estudo desenvolvido pela consultoria Roland Berger, que coletou dados de 56 dos principais fundos na Europa, Estados Unidos, Rússia e Suíça. Somadas, as carteiras têm sob gestão aproximadamente ¿ 300 bilhões.

De acordo com o levantamento, a expectativa média entre a entrada e a saída de um investimento aumentou 25% desde 2006, pulando de 4 para 5 anos. "Na prática, o que se percebe é que, com a crise, os fundos passaram a ter de se aproximar mais da gestão das empresas. O gestor tem um papel cada vez mais estratégico e não fica mais limitado à definição de uma série de metas agressivas para melhorar o desempenho operacional da companhia logo que chega", afirma Antônio Farinha, sócio da Roland Berger.

A necessidade de participar mais ativamente da vida das empresas investidas deve, na avaliação do executivo, fazer com que os fundos alterem a formação de suas equipes. Será preciso ampliar a diversidade dos profissionais. A tendência é que cada etapa do investimento passe a contar com um time. Atualmente, no entanto, a realidade é bem diferente. Cerca de 95% dos fundos de private equity utiliza uma única equipe ao longo de toda a cadeia de investimento.

O perfil dos profissionais ainda é muito ligado às finanças. "Ainda não é possível dizer que essa mudança é uma tendência. Não é simples alterar essa estrutura mais tradicional", pondera Farinha, citando que o perfil clássico dos profissionais dos fundos de private equity é de executivos vindos de bancos de investimento ou da indústria de fusões aquisições. "O que detectamos na pesquisa é que diferentes equipes formadas por especialistas de outras áreas e com perfil mais estratégico acompanhando as distintas etapas e necessidades de um investimento trariam um retorno mais adequado ao momento econômico que vivemos atualmente", aponta.

Mais profissionalismo

O levantamento da consultoria, cuja sede fica em Munique, na Alemanha, demonstra também que o trabalho dos gestores está se sofisticando. Praticamente todos os fundos pesquisados mantêm modelos para entrar nas companhias investidas e, logo nos primeiros meses, dar uma guinada em seus principais indicadores financeiros, algo conseguido com a melhoria de sua performance operacional. Em 2004, apenas metade dos fundos mantinha essas estratégias bem definidas, conhecidas como plano de 100 dias. "Como está mais difícil encontrar novas empresas atrativas, os gestores passaram a se concentrar em seus atuais investimentos, onde buscam aumento da rentabilidade e das receitas", afirma o especialista.

Sinal fechado

Os fundos têm, basicamente, duas formas de deixar empresas nas quais investem. A mais comum até 2007 era o mercado de capitais. Os fundos iam à bolsa, faziam a oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) de uma ou mais companhias investidas valendo-se de uma oferta secundária. E nela vendiam parte ou a totalidade dos papéis que detinham. Esse mercado, ao menos por hora, secou. No Brasil, o último IPO ocorreu em junho de 2008. A segunda forma que um fundo de private equity tem de cumprir o ciclo de investimento em um ativo é por meio de uma venda para um investidor estratégico.

Alguns fundos que têm eu sua carteira empresas de pequeno e médio portes acreditam que, assim que o mercado de capitais der sinais de retomada, poderão retomar planos de listar empresas no Bovespa Mais. Um exemplo é o Stratus, que tem em sua carteira a empresa de tecnologia da informação Senior Solution.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Luciano Feltrin)