Título: Saldo modesto em 2005, com o superávit comercial menor
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/09/2004, Nacional, p. A-4

Serão só US$ 100 milhões, após os US$ 6,7 bilhões esperados em 2004. O Brasil vai ampliar o fluxo de comércio com o exterior em 2005, mas não deverá repetir o recorde de superávit de US$ 30 bilhões esperado para 2004. O sinal de que haverá ampliação da inserção internacional acompanhada de um recuo no saldo das divisas cambiais foi dado ontem pelo Banco Central, que estimou para o próximo ano exportações de US$ 94,5 bilhões, importações de US$ 70 bilhões e superávit de US$ 24,5 bilhões.

O desenho do novo cenário comercial consta no modelo do balanço de pagamentos (contabilidade do volume de dólares que entra e sai do País) do próximo ano, no qual o Banco Central calculou em US$ 14 bilhões o total do ingresso dos investimentos estrangeiros diretos na economia e em US$ 18,3 bilhões o montante das reservas líquidas ao fim de 2005. Para as reservas líquidas, a estimativa é de US$ 18,3 bilhões. Loyo ressaltou que essas projeções foram elaboradas sem considerar qualquer intervenção no mercado de câmbio.

"Ter e manter superávit em conta corrente não é objetivo de política econômica, mas é importante que tenhamos partido, neste ciclo de crescimento que se iniciou em 2003, de uma situação confortável. À medida em que a retomada se concretiza, é natural que haja uma redução do superávit em conta corrente", disse o diretor de Política Econômica do BC, Eduardo Loyo. Ele adiantou que, em 2005, o saldo em transações correntes deverá cair para US$ 100 milhões, ante o superávit de US$ 6,7 bilhões projetado para este ano, em decorrência, principalmente, do menor saldo comercial previsto para 2005.

Conseqüência do crescimento

Eduardo Loyo, atribuiu a tendência de queda do superávit comercial à maior demanda do mercado interno por importações.

"É uma conseqüência normal do processo de crescimento. Estamos projetando para 2005, em relação a 2004, um crescimento de 5% das exportações e de 16,7% das importações. É por isso que o saldo comercial se reduz, e isso é absolutamente razoável, normal, saudável e não há motivos para que isso se torne uma fonte de preocupação."

Posição adiantada na retomada

O governo estimou em 16,7% o acréscimo das importações. A autoridade monetária considerou que a maior parte das aquisições feitas no exterior deverá ser de bens intermediários e bens de capital.

"Prevemos uma redução no superávit em conta corrente, mas que ainda deixa a economia em uma posição de financiamento em conta corrente muito confortável, principalmente porque isso ocorrerá no fim do próximo ano, quando estaremos adiantados no processo de retomada neste novo ciclo de expansão", avaliou Loyo.

Para 2005, o BC previu em US$ 14 bilhões o total do ingresso de investimentos estrangeiros na economia. Esse montante está um pouco acima da cifra calculada para 2004, considerando que dos US$ 17 bilhões esperados para este ano, US$ 4,9 bilhões referem-se a uma operação extraordinária de troca de ações efetuada em agosto.Em termos de reservas internacionais, foi prevista uma redução de US$ 9,8 bilhões no estoque das reservas brutas, que passariam de US$ 45,9 bilhões calculados para o fim de 2004 para US$ 36,1 bilhões ao fim de 2005. As reservas líquidas ¿ que não sofrem o impacto dos pagamentos feitos ao Fundo Monetário Internacional (FMI) ¿ foram calculadas em US$ 18,3 bilhões, ante os US$ 20,6 bilhões projetados para o fim deste ano. Os pagamentos ao fundo internacional somarão US$ 6,7 bilhões, ante os US$ 4,3 bilhões desembolsados em 2004.

Na programação do balanço de pagamentos do próximo ano, a autoridade monetária definiu que a programação de financiamento externo será de US$ 6 bilhões, US$ 2 bilhões acima dos US$ 4 bilhões fixados para este ano de 2004. Da parte dos organismos multilaterais são esperadas transferências no montante de US$ 2 bilhões.

Dados de 2004 são atualizados

Também ontem o BC divulgou projeções revisadas do balanço de pagamentos de 2004. Na balança comercial, a receita com as exportações subiu de US$ 83 bilhões para US$ 90 bilhões (alta de 23% sobre 2003). A previsão de gastos com as importações foi elevada de US$ 57 bilhões para US$ 60 bilhões (alta de 24% sobre o ano passado). Com isso, o saldo comercial subiu para US$ 30 bilhões.

Com o reforço do saldo recorde do comércio externo, o superávit em transações correntes esperados para este ano foi calculado em US$ 6,7 bilhões (1,2% do PIB) ante os US$ 2,5 bilhões previstos anteriormente. Esse resultado é maior não somente em valores absolutos, mas também em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB). As projeções de reservas internacionais para o fim deste ano foram de US$ 45,9 bilhões para as reservas brutas e de US$ 20,6 bilhões para as reservas líquidas.