Título: O PMDB pode ter um candidato em 2010
Autor: Mazzini,Leandro
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/05/2009, Brasil, p. A11

Brasília, 18 de Maio de 2009 - Presidente licenciado do PMDB, o maior partido do Brasil, e comandante da Câmara dos Deputados - o que o coloca na condição de terceiro homem mais importante do país - o deputado federal Michel Temer (SP) não mudou o perfil mesmo depois de décadas acostumado aos trânsitos do poder: trata com prudência de assuntos da Casa ou eleitorais. Mas deixa recados nas entrelinhas. Cotado para vice na chapa presidencial de Dilma Rousseff, a pré-candidata do PT, diz ser uma honra, embora não descarte levar o PMDB, unido, para a chapa presidencial do PSDB. Tudo, no entanto, não depende dele. Cauteloso, avisa, que as convenções do partido vão nortear as decisões. Para justificar isso, respalda-se na lembrança de palavras do próprio presidente numa conversa entre os dois: "Ele tem me dito que a aliança que ele fez com o PMDB é administrativa, não eleitoral".

Gazeta Mercantil - Percebe-se que há um esforço para acelerar os trabalhos paralelamente às seguidas denúncias contra parlamentares. A Câmara precisa de uma reforma regimental ou uma pauta positiva para cobrir isso?

Acho que é fundamental uma pauta positiva, não para cobrir eventuais irregularidades, se houver, porque, não há dúvida, elas têm sempre que ser verificadas. Mas a pauta positiva significa que a Câmara dos Deputados está trabalhando em sua tarefa básica, que é a tarefa legislativa. E realmente nós temos conseguido isso. Nos últimos tempos, naturalmente, depois daquela interpretação que eu dei referente à pauta pelas medidas provisórias, nós estamos conseguindo votar matérias de grande significado. Não sei se posso aqui elencar alguns casos. Há alguns projetos aprovados Por exemplo, o caso do airbag: antes mesmo que os órgãos técnicos do Executivo concluíssem os estudos, nós já aprovamos a obrigatoriedade do airbag, que significa segurança do motorista e não-motorista. Tem a questão do trote violento, objeto de votação; e também a violência nos estádios de futebol.

Gazeta Mercantil - Como está a relação do Legislativo com Executivo? Pode falar que a Câmara está mais independente do Executivo, não só na questão das MPs?

Eu tenho conversado várias vezes com o presidente Lula, obedecendo um princípio constitucional, que é o da harmonia entre os poderes. Como faço permanentemente com o presidente do STF, Gilmar Mendes. Mas aqui, especialmente, insisto, na nova interpretação que dei à questão do trancamento da pauta, você verifica que nem as MPs são prejudicadas, porque as coloco em sessões ordinárias, mas ao mesmo tempo votamos inúmeros projetos de interesse do país.

Gazeta Mercantil - E as reformas estruturantes, a política e a tributária? Passam?

Acho que no tocante à reforma política nós vamos tentar fazer alguma coisa. Esclareço que apareceram pré-projetos referentes a lista fechada e financiamento público, até curiosamente muitos deram como se já tivessem sido apresentados, discutidos e aprovados. A questão da lista, que sofreu muitas críticas, deu-se como fato acabado. E, na verdade, são pré-projetos. E há outras tantas propostas aqui.

Gazeta Mercantil - É possível dizer que a Câmara, às vésperas da campanha presidencial, vai votar a reforma política, que pode mexer com as eleições do ano que vem?

Se não pudermos aplicá-la em 2010, podemos estabelecer para 2014. Então, reconheço que fica mais fácil quando você tem uma eleição próxima, como é a do ano que vem. Os interesses estão muito, digamos, à flor da pele. Então se você deixar isso para 2014, talvez fosse mais útil e o país prosperaria politicamente da mesma maneira.

Gazeta Mercantil - O senhor é o presidente licenciado do maior partido do Brasil. É a favor da lista fechada e financiamento público?

Tenho simpatia pelo voto majoritário nos estados. Por exemplo, São Paulo tem 70 vagas. Então os 70 mais votados seriam eleitos, porque essa é uma mensagem que o povo vai compreender. É claro que isso precisa vir acoplado a uma fidelidade partidária muito rígida, porque senão se desvaloriza os partidos. Mas há uma vantagem maior. É que nos dias atuais, muitas vezes os partidos procuram candidatos que vão ter 2, 3, 5 mil votos para fazer o tal coeficiente eleitoral. Nessa hipótese, não. Só se candidatarão aqueles que tenham ligações com segmentos da população, do eleitorado, que possam levá-los efetivamente à vitória. Isso acaba na verdade fortalecendo os partidos. Acho que seria uma fórmula muito adequada.

Gazeta Mercantil - E a reforma tributária? Não há consenso, como fica?

Eu ponderei ao deputado Sandro Mabel (PR-GO, relator da PEC) que a Câmara não poderia perder a oportunidade de aprovar uma reforma tributária. Vejo realmente focos de resistência, mas como alguns insistem que se coloque, eu disse que no mês de junho eu vou colocar em votação. Os líderes dirão se devem votar, se não devem votar. Pode eventualmente haver obstrução e não se conseguir votar, afinal é uma proposta de emenda constitucional que vai demandar o voto positivo, com a presença de 308.

Gazeta Mercantil - E sobre a eleição do ano que vem? O PMDB fica de que lado, PT ou PSDB?

Pode até ter um candidato próprio. É uma terceira hipótese que você não aventou, mas que eu vejo que muitos dirigentes partidários aventam. Eu farei muito esforço para a unidade do PMDB. Caso fique solto, pode rachar, não é útil para o partido. Se obtivermos uma unidade para uma das hipóteses - apoiar a Dilma Rousseff (predileta de Lula para sua sucessão), apoiar o candidato José Serra (potencial candidato do PSDB) ou a opção por uma candidatura própria - que houvesse uma unidade nesse pensamento. Mas desde logo vou dizendo que não é fácil. Mas nós estamos realizando congressos estaduais, para, afinal, fazer um grande congresso nacional, com todos os estados, porque para você fazer uma aliança, ou em outra hipótese, ter candidatura própria, você precisa submeter isso à convenção. O voto da convenção é dos delegados dos estados. Então é preciso verificar qual é a posição, especialmente a ligação PT-PMDB, em cada estado, para verificar se a aliança pode consolidar-se ou não.

Gazeta Mercantil - O senhor citou esse esforço do PT-PMDB. Mas também não descartou a unidade com Serra. É possível que o PMDB possa fechar unido com o candidato do PSDB, seja quem for?

Não descarto isso, porque há vários estados que pensam numa aliança com o governador Serra. Então não posso ignorar essa realidade. Agora, quem vai decidir isso, volto a insistir, será a convenção nacional, como nós sempre fizemos no PMDB. Hoje temos vinculação muito grande com o governo. O natural é que haja uma aliança com o candidato do governo, se houver. Agora, se não houver, tenho dito aos meus companheiros do partido, nós não poderíamos ficar no governo até, digamos, abril, e depois sairmos para uma outra aliança ou até mes-mo candidatura própria.

Gazeta Mercantil - Até lá, o senhor ainda vai ser presidente da Câmara. Apesar de um poder independente, como disse, tem uma forte vinculação com o Planalto. Se o PMDB decidir seguir com o PSDB, como fica sua situação?

Nós todos, do partido, somos escravos da linha partidária. Eu não poderia me insurgir contra uma convenção partidária, porque, até como dirigente, estaria negando o próprio partido se me negasse a acompanhar a decisão do partido.

Gazeta Mercantil - O senhor acredita que as relações podem se amargar? O PMDB sustenta a governabilidade no Congresso...

Sabe que o presidente Lula, muito adequadamente, tem me dito que a aliança que ele fez com o PMDB é uma aliança administrativa, uma aliança governamental, não é uma aliança eleitoral. A aliança eleitoral nós todos temos cuidado de tentar realizá-la agora. Então será deste período até, vamos dizer, novembro, que se vai verificar se estabelece ou não uma aliança. Eu reitero que há muita probabilidade dessa aliança eleitoral. Mas é preciso ouvir todos os estados federados, é preciso verificar qual é a relação PT-PMDB em todos os estados para ver se a aliança nacional se consolida ou não.

Gazeta Mercantil - Quais são os nomes potenciais do PMDB para candidatura?

Temos muitos nomes no PMDB. Não basta você querer construir um nome. Nós temos governadores, lideranças do partido. O nome será construído com muita tranquilidade. Não estou dizendo que isso venha a acontecer, mas é também uma probabilidade.

Gazeta Mercantil - O senhor já foi colocado como um potencial vice da ministra Dilma Rousseff. Pretende?

Fico muito honrado com a lembrança do nome, é natural. Mas não tenho falado sobre isso.

Gazeta Mercantil - Não conversou isso ainda com o PMDB ou o governo?

Não. São pessoas que acham que eu posso ser candidato a vice.

Gazeta Mercantil - Até que ponto a doença da ministra pode atrapalhar ou nortear os rumos do PMDB?

É inevitável que se pergunte mas é evitável que se responda. Acho que é uma matéria que não devemos cuidar. Neste momento, temos que torcer e desejar que a ministra Dilma tenha pronta recuperação. Ela está em plena atividade, acho que a doença nem a abalou.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Leandro Mazzini - Colaboraram Raphael Bruno e João Batista de Araújo)