Título: Mantega vê expansão de 3% a 4% no 4º- trimestre
Autor: Lorenzi,Sabrina
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/05/2009, Brasil, p. A5

Rio de Janeiro, 19 de Maio de 2009 - Mais importante que a fotografia (negativa) da economia brasileira no primeiro trimestre é o filme de todo o ano de 2009. Assim o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que pode ter havido retração econômica de janeiro a março, mas destacou que o País já voltou a crescer no segundo trimestre deste ano. A recuperação será maior no terceiro trimestre e, nos últimos três meses, o Produto Interno Bruto (PIB) já deverá alcançar um crescimento de 3% a 4%, avalia o ministro. A retomada é vista por outros analistas e extrapola as fronteiras do Brasil. "O que interessa é o filme de um ano todo e não a fotografia do primeiro trimestre. Aqui e no mundo a economia foi mal mas isso está mudando", afirmou Mantega. O ministro participou da abertura do XXI Forum Nacional, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Provavelmente houve recessão técnica. Ainda não temos o dado oficial, mas em junho já estaremos no final do segundo trimestre. Se houve ou se não houve, que importância tem?", indagou.

O PIB recuou 3,6% no último trimestre do ano passado em relação ao terceiro. Para o primeiro, o mercado espera uma queda de 0,49% no início do ano. "O primeiro trimestre também foi fraco, mas o segundo trimestre já está retomando. O que interessa é a dinâmica da economia. A fotografia do passado todos nós já sabemos", acrescentou. E projetou um crescimento expressivo para ainda neste ano.

"A crise será mais rápida aqui. Acredito que no final deste ano a economia brasileira no último trimestre vai estar crescendo em torno de 3% a 4% em relação ao ano anterior", disse. Com isso, o País estará pronto para crescer 5% em 2010.

O diretor-geral do Banco Mundial no Brasil, Vinod Thomas, avalia que o País está bem posicionado, mas deve investir mais em educação, aumentar a qualidade dos gastos públicos em infra-estrutura e meio ambiente. "Tem que cuidar do capital humano, social e natural". Entre os emergentes, ponderou, o Brasil foi dos que mais reduziu a desigualdade entre ricos e pobres.

O ministro da Fazenda aproveitou para comemorar o aumento de empregos formais. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mais de 100 mil novos postos de trabalho foram abertos em abril. Mantega também destacou o aumento nos preços das commodities e dos níveis de crédito no País. "A partir de março, já há sinais de recuperação no Brasil, estamos detectando alguns sinais de melhoria na economia brasileira", completou.

Outras condições favoráveis ao crescimento econômico são a queda nas taxas de juros, o retorno da captação externa e o fortalecimento do mercado de capitais. Também lembrou das reservas de US$ 200 bilhões nos cofres do Tesouro. "A grande novidade é que o Brasil agora pode fazer políticas anticíclicas", disse o ministro, citando o plano habitacional do governo. Outro destaque otimista da palestra do ministro foi o retorno do dinheiro estrangeiro para o mercado de capitais brasileiro, que só perde para a China.

O gigante asiático, por sua vez, foi criticado mais uma vez por manter a moeda desvalorizada. Albert Keidel, associado senior da Carnegie Institute for Internacional Peace, defende também a redução do superávit chinês como maneira de equilibrar a economia. Mas descartou a tese de que a China tenha provocado a crise e lembrou que os bons resultados da balança comercial chinesa não começaram há muito tempo.

Para Mantega, a tendência é ter o crescimento mundial liderado por mercados emergentes nos próximos anos. "Certamente estamos diante de uma nova dinâmica. Não é mais uma economia dominada por um ou dois países. Os emergentes vão compartilhar ou até tomar a dianteira porque são países com mercado interno, equilíbrio das contas públicas, reservas e recursos naturais", afirmou Mantega.

A escritora Lya Luft considera que a crise pode ser uma oportunidade de se tornar mais humano. "Não vejam apenas bilhões, mas a face humana", declarou. "Todo sofrimento torna a pessoa mais humana. É um momento para a população se tornar mais leal, menos arrogante e gananciosa".

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Sabrina Lorenzi)