Título: Brasil e Índia precisam fortalecer parcerias
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Fonte: Gazeta Mercantil, 19/05/2009, Brasil, p. A7

São Paulo, 19 de Maio de 2009 - As relações entre Brasil e Índia devem contar com mais do que "simpatia estatística" para ampliar não só o comércio, mas as trocas em tecnologia e pesquisa em diferentes áreas. O principal, no atual cenário, é conter uma certa euforia gerada pela importância que estas duas nações vem ganhando no cenário global pós-crise, e trabalhar para fortalecer a presença e cooperação dos setores privados de ambos os países. Esta foi a tônica da Conferência Brasil Índia, realizada ontem em São Paulo, com a presença de representantes do governo e indústria brasileiro e indiano para discutir mercados e oportunidades de negócios nestes países.

O setor farmacêutico é um dos principais segmentos a se beneficiar do fortalecimento da parceria. O Brasil é o oitavo mercado farmacêutico do mundo, tendo movimentado US$ 19,5 bilhões no ano passado, com 1,8 bilhão de unidades farmacêuticas (comprimidos, pílulas, doses dentre outros) vendidas por ano. Já o mercado indiano farmacêutico é o décimo terceiro no globo, com movimentação de U$ 6,5 bilhões em 2008 e 1 bilhão de unidades farmacêuticas vendidas por ano. "Apesar da diferença de tamanho, os indianos são mais avançados que o Brasil em pesquisa e tecnologia neste setor", explicou João Carlos Momesso, diretor executivo do MIT Partners.

O Brasil deve aproveitar a tecnologia indiana, ao mesmo tempo em que pode ser utilizado como porta de entrada da América Latina para medicamentos da Índia. "Sem contar que a possibilidade de um Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, sigla em inglês) de 25% ou 30% no Brasil é real neste setor, o que não ocorre em outros países", diz Momesso.

Segundo Balaji Subramanian, diretor para o Brasil da Aurobindo, uma das maiores empresas de medicamentos da Índia, "a indústria indiana não está no Brasil para competir com as empresas locais, mas para estabelecer parcerias mirando o mercado global". Ele lembrou que a adoção dos medicamentos genéricos no País aumentou o a produção de fármacos na Índia, e auxiliou a entrada destas empresas no Brasil. "Estamos sendo um instrumento para a população brasileira ter remédios mais baratos", frisou o executivo.

Para o setor do agronegócio, no entanto, as perspectivas são menos otimistas. Os países concorrem em uma série de produtos neste segmento, e o acesso ao mercado indiano não é simples, avaliou Christian Lohbauer, presidente da associação de exportadores de cítricos. "As tarifas de importação são altas para o agronegócio, e a Índia tem problemas graves de infraestrutura", argumentou o executivo. Ele citou o exemplo de carnes congeladas, mercado no qual o Brasil é altamente competitivo mas enfrenta problemas culturais e logísticos para acessar o mercado indiano. "O indiano consome basicamente carne de frango, e 95% do que consome é fresco, e há pouca infraestrutura refrigerada para a distribuição da carne congelada no país", considera Lohbauer.

O avanço da posição relativa que Índia e Brasil ganharam no cenário global pós-crise foi lembrado pelo presidente do Conselho Editorial da Companhia Brasileira de Multimídia (CBM), Marcos Troyjo, que entretanto afirmou ser importante tomar cuidado com um entusiasmo em demasia. "O potencial de cooperação é enorme, mas o Brasil não tem um projeto para a Índia e vice-versa, sendo que as relações, no momento, estão mais baseadas em simpatia estatística, devido às semelhanças de tamanho e posição como emergentes", ponderou. Sair desta situação dependerá do que as elites de ambos os países querem para si, para seus próprios países e para o mundo. "Estas elites têm que tomar conhecimento da necessidade de se pensar em projeto de longo prazo".

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Redação)