Título: Após três tentativas frustradas, Sadia e Perdigão anunciam fusão
Autor: Batista,Fabiana
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/05/2009, Finanças, p. B1

São Paulo, 20 de Maio de 2009 - Em dezembro passado, mais próximo ao Natal, o presidente do Conselho de Administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan, atendeu o telefone e ali foi feito o primeiro contato de uma conversação que duraria mais de cinco meses. Do outro lado da linha, Nildemar Secches, presidente do Conselho de Administração da Perdigão, abria o canal para a quarta tentativa de fusão das duas maiores empresas de alimentos do Brasil. A primeira foi em 1999. "Há dez anos nos reuníamos para falar sobre o assunto, mas a conversa não seguiu muito adiante", conta Secches. A segunda, em 2002, obteve êxito parcial. Foi criada a Brazilian Foods (BRF Trading S.A) com atuação voltada para exportação com foco na região conhecida como "Euroásia". A união comercial durou um ano e meio e foi desfeita.

A tentativa seguinte, em 2006, foi a mais traumática de todas e a que quase colocou um ponto final em qualquer outra possibilidade de associação: a oferta hostil de compra da Perdigão feita pela Sadia, quando exercia a presidência do conselho o primo de Furlan, Walter Fontana Filho. O caso arranhou a imagem da Sadia e, recentemente, acabou resultando na instauração do primeiro processo brasileiro por uso de informações privilegiadas na iniciativa privada. "Depois desta última, ficamos com a sensação de que não daria certo mesmo", contou Secches.

Ambos os executivos garantem, contudo, que essas são águas passadas. "Até agora, eu e Nildemar atuamos como ""equilibristas de pratos"" para tentar superar a questão emocional. Estamos nos preparando para sermos missionários no sentido de unificar de verdade as duas empresas", disse Furlan. Juntos, os dois ex-concorrentes co-presidirão a Brasil Foods (BRF), como foi batizada a nova companhia, mas somente para efeitos de informações ao mercado, sem alteração de marca.

Os acionistas da Perdigão deterão 68% da nova companhia e os da Sadia, os 32% restantes. A Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil), que detinha 14,15% de participação na Perdigão e mais 7,33% na Sadia (total de 21,48%), será a maior acionista individual com pouco mais de 12% das ações. A família controladora da Sadia, que detinha 23,38%, agora também terá percentual na casa dos 12%, mas um "pouco menos do que a Previ", esclareceu Furlan. "Qualquer décimo em uma empresa gigante como a BRF é muito", acrescentou o ex-ministro.

Um dos gargalos para concretizar a operação foi a retirada da holding financeira da Sadia do negócio. A solução encontrada foi a compra, pela família controladora da Sadia, das operações do Banco Concórdia e da Corretora Concórdia pelo valor aproximado de R$ 67 milhões. Dividendos foram distribuídos aos acionistas para reduzir o patrimônio final da holding. De acordo com Leopoldo Viriato Saboya, diretor de Relação com Investidores (RI) da Perdigão, o valor de avaliação inicial da holding financeira era próxima de R$ 200 milhões, o que significa que a distribuição de dividendos envolveu valores próximos de R$ 130 milhões. Ainda de acordo com o RI, na operação foi considerado um equity de R$ 10 bilhões para as duas companhias, sendo cerca de R$ 6,8 bilhões da Perdigão e R$ 3,2 bilhões da Sadia. "Não houve movimentação financeira, apenas de ações", reiterou Saboya.

Com uma dívida nada desprezível de R$ 10 bilhões, a Brasil Foods fará uma oferta de ações, provavelmente com direito de preferência aos atuais acionistas, até julho para captar R$ 4 bilhões. "Nossa avaliação é que a demanda está grande. Em torno de R$ 1,8 bilhão deve ser subscrito pelos grandes acionistas. Ainda tivemos conversas com o BNDESpar, que demonstrou interesse em subscrever ações. Poderíamos até fazer uma oferta maior, mas acreditamos que esse recurso será suficiente para aliviar as dívidas de curto prazo das duas empresas", disse Furlan. A Sadia informou em seu balanço do primeiro trimestre uma dívida líquida de curto prazo de R$ 3,23 bilhões.

Os dois co-presidentes da BRF descartaram demissões "em chão de fábrica". Eles afirmaram que a visão é de que a sinergia trará economia em áreas estratégicas, como de logística e distribuição, e que a previsão é de expansão a mercados onde as empresas ainda não conseguem acessar, como a China e os Estados Unidos, e, no mercado interno, o público de menor renda.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Fabiana Batista)