Título: Reatores velhos e sem certificação
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 28/03/2011, Brasil, p. 6

Reatores nucleares antigos, das décadas de 1950 e 1960, são utilizados em pesquisas há décadas por institutos ligados à Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) sem qualquer tipo de certificação. A Cnen não pode conceder licença a si mesma e, para resolver esse impasse, o órgão editou uma norma com a obrigação de certificar esses reatores, movidos à base de urânio enriquecido. As atividades radioativas de quatro reatores são desenvolvidas sem a autorização da própria Cnen. A função da certificação é especificar procedimentos que garantam a segurança do funcionamento dos reatores. Dois deles estão dentro da Universidade de São Paulo (USP) e os outros dois nas cidades universitárias da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A função desses artefatos é exclusivamente propiciar a pesquisa científica, em frentes como espalhamento de nêutrons, radiação, produção de radiofármacos e até mesmo a mudança de cor de uma pedra preciosa, por exemplo. A exemplo das usinas nucleares, os reatores produzem rejeitos radioativos, mas em escalas pequenas. O combustível usado, como ocorre nas usinas, precisa de resfriamento em piscinas específicas.

O próprio relatório de atividades da Cnen, referente ao período de 2003 a 2010, confirma que os quatro reatores nucleares ainda não têm certificação, mesmo com o funcionamento há cinco décadas, no caso de um deles. Entre os ¿projetos em desenvolvimento¿ do órgão, conforme o relatório, está a proposta de ¿dar continuidade às atividades de certificação dos reatores de pesquisa dos institutos da Cnen, através de inspeções e avaliações de segurança¿. Em entrevista ao Correio, o presidente da Cnen, Odair Dias Gonçalves, confirmou que a certificação não foi concluída. ¿Ela já foi iniciada. Estamos cumprindo padrões de segurança.¿

Os reatores IEA 01 e MB 01 pertencem ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), ligado à Cnen, e estão dentro do câmpus da USP. O primeiro começou a funcionar em 1957. Segundo um especialista do setor nuclear ouvido pelo Correio, o reator chegou a funcionar com urânio enriquecido a 90% ¿ ¿Dá para fazer uma bomba atômica¿ ¿ e depois foi adaptado para urânio a 10%. O combustível usado foi devolvido aos Estados Unidos, detentor da tecnologia usada no reator. O MB 01 é brasileiro e foi construído pela Marinha em 1998. Os outros dois reatores, instalados no Rio e em Minas, também são antigos, das décadas de 50 e 60. Estão no Instituto de Engenharia Nuclear (IEN) e no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), ambos institutos de pesquisa da Cnen.