Título: PTB adota silêncio como estratégia depois de denúncia
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/09/2004, Política, p. A-10

A descoberta de um pedido de ajuda financeira do PTB ao PT, de cerca de R$ 10 milhões, em troca de apoio eleitoral, fez com que a legenda comandada pelo deputado Roberto Jefferson (RJ) entrasse na "muda". Como um pássaro quando precisa trocar as penas, o partido quer ficar quieto, mas admite que perdeu espaço no rol de preferências do Planalto como fiel escudeiro. A imobilidade petebista abre a fila para que outras legendas se candidatem ao cargo. "Não há dúvida que perdemos espaço. Os fatos falam por si. Vai haver uma disputa entre os aliados para se credenciar", admite um petebista.

Ele ainda aposta que o partido está no páreo. Baseia-se no comportamento adotado por Jefferson, que confessou ter pedido dinheiro, mas acrescentou que não o recebeu. Prosseguiu informando que o problema é localizado entre os petebistas pernambucanos e não considera justo que todo o partido saia maculado.

Com a queda de prestígio do PTB, o PL empolga-se novamente. O partido perdeu a confiança do Planalto após as sucessivas críticas aos juros feitas pelo vice-presidente, José Alencar. A ousadia do presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), que pediu a demissão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ajudou a deteriorar ainda mais a relação.

Os liberais voltaram a ter esperanças. E ainda fazem ironias, ao garantir que o governo pode flertar com muitos partidos, mas só o PL é a esposa fiel. "Nunca perdemos esse posto. As amantes vêm, vão, criam problemas, umas fazem mais barulho do que outras. Mas na hora do sim, será conosco que o governo Lula subirá novamente ao altar", apostou o líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO).

Mabel vê com naturalidade esta disputa, comparando a ânsia de moças solteiras diante de um bom partido, rico, mas casado. Acrescenta que o PTB é uma legenda de respeito, que ocupa um espaço importante na bancada governista. Mas lembra que o PL é o companheiro de primeira hora, desde o início da campanha de Lula, em 2002. "Em algumas votações, temos sido mais fiéis até que o próprio PT. Por que nos criticar? O Zé Alencar pede a queda nos juros? O Zé Dirceu também pede", acrescentou Mabel.

Correndo por fora, vem o PMDB. O líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), admite que, se os parlamentares querem estabilidade e boa estrutura partidária, é para os braços do PMDB que eles devem correr. Em sua visão, na ante-sala do governo PT, é o PMDB quem tem mais tempo de televisão e maior capilaridade. "Mas ainda é cedo para fazer qualquer análise. Ninguém sabe qual será a nova geografia política após as eleições de outubro", diz um peemedebista.

O PMDB poderá aproximar-se ainda mais do Planalto ou não. A cúpula do partido, que ainda controla a Executiva Nacional, está ressentida com o veto ao nome de Michel Temer para compor a chapa com Marta Suplicy (PT) na disputa pela prefeitura de São Paulo. Falam, inclusive, em rompimento com o Planalto.

O Planalto ainda não se definiu neste cenário. Frustrado o plano PTB, é preciso encontrar caminhos alternativos. Retomar os elos com o PL é um deles. O PMDB é uma boa opção, mas, por ser um partido com espaço próprio, não precisaria do empurrão do governo para crescer. Resta o PP, mas a parceria só acontece na prática na Câmara dos Deputados, pois a legenda não tem senadores e a aliança com o PT nos estados e municípios é ínfima. "Além disso, eles são muito à direita. O PL e o PTB, pelos menos, são neutros", desconversou um assessor do Palácio do Planalto.