Título: Japoneses protestam contra usinas atômicas
Autor: Queiroz, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 28/03/2011, Mundo, p. 13

Centenas de pessoas participaram de manifestações nas cidades japonesas de Tóquio e Nagoya, pedindo que o governo abandone suas centrais nucleares. Parte da população está atemorizada com as consequências do acidente da usina de Fukushima, atingida seriamente pelo terremoto seguido de tsunami, no último dia 11. Até ontem, a central apresentava picos de radioatividade muitas vezes acima dos limites tolerados, depois de uma série de episódios de vazamento de radiação e do registro de contaminação em amostras de verduras, legumes, pescados e água do mar.

Em um país onde a causa antinuclear tradicionalmente mobiliza poucas pessoas, cerca de 300 manifestantes se reuniram ontem em Nagoya, atendendo à convocação de estudantes secundaristas preocupados com a situação em Fukushima. Em Tóquio, pouco mais de 300 manifestantes participaram de uma passeata no bairro de Ginza, gritando slogans como: ¿Não precisamos de energia nuclear.¿

Enquanto isso, a situação continua preocupante em Fukushima. Um elevado nível de radioatividade foi medido em uma camada de água que vazou do reator 2 da central nuclear, no nordeste do Japão. Segundo a agência de notícias Jiji, o vazamento forçou a retirada dos funcionários e a suspensão das operações de bombeamento de água para resfriamento dos reatores. O nível detectado na água do subsolo da sala da turbina, que fica atrás do reator, foi de mil milisieverts por hora, explicou um porta-voz da Tokyo Electric Power (Tepco), empresa responsável pelo funcionamento da usina. Alarme falso Depois de anunciar, em um primeiro momento, que esse índice seria ¿10 milhões de vezes superior¿ ao tolerável, a empresa convocou uma entrevista coletiva urgente para admitir que havia se equivocado. Segundo o porta-voz, os técnicos confundiram os elementos radioativos analisados. A Tepco confirmou o nível de ¿mil milisieverts por hora.¿ Na prática, isso significa que o combustível no núcleo do reator provavelmente sofreu danos durante um princípio de fusão, provocado logo depois do terremoto.

¿Detectamos nas amostras de água taxas elevadas de césio e outras substâncias que geralmente não são encontradas na água do reator. Existe uma forte chance de que as barras de combustível tenham sido danificadas¿, explicou o porta-voz. Foram detectados níveis de radioatividade de várias centenas de milisieverts por hora em torno dos reatores danificados da central, obrigando a evacuação temporária dos funcionários que trabalham para conter a crise.

Na última quinta-feira, três técnicos que usavam apenas botas de borracha foram contaminados pela radiação ao caminhar por uma poça de água altamente radioativa. Eles estavam na sala da turbina do reator 3, onde o nível de radiação chegava a 180 milisieverts por hora. Dois deles precisaram ser hospitalizados com queimaduras nos pés. Cerca de 500 técnicos, bombeiros e militares trabalham dia e noite na central de Fukushima para tentar resfriar os reatores.