Título: Mercado se prepara para ofertas de ações de até R$ 9 bilhões
Autor: Pinheiro, Vinícius ; Filgueiras, Maria Luíza
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/05/2009, Finanças, p. B1

22 de Maio de 2009 - Após um longo período de vacas magras e negócios esporádicos, o mercado de capitais brasileiro se prepara para receber duas grandes ofertas de ações nos próximos meses. O primeiro teste deve ser a retomada do processo de abertura de capital da empresa de meios de pagamento VisaNet, estimada em cerca de R$ 5 bilhões e com boas chances de acontecer em junho. Em seguida, será a vez da Brasil Foods (BRF), gigante de alimentos resultante da fusão entre Perdigão e Sadia. A empresa anunciou a intenção de captar R$ 4 bilhões para equacionar o balanço da companhia, herdeira das dívidas bilionárias com derivativos tóxicos da Sadia.

Na análise de especialistas, dificilmente as duas operações abrirão caminho para outras ofertas de ações, mas existe demanda para papéis de empresas de grande porte e com bom histórico, como é o caso das duas companhias. Com a relativa melhora das condições de mercado, portanto, outros negócios com características semelhantes podem surgir.

Segundo o presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais de São Paulo (Apimec-SP), Reginaldo Alexandre, as operações devem atrair os investidores estrangeiros, que no período de euforia das ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) absorviam, em média, 70% da demanda. No caso da BRF, a participação nacional deve ser superior, por conta da perspectiva de entrada do BNDES e dos atuais sócios. "Neste novo período, o mercado exigirá operações maiores e de nomes mais consolidados, no espírito dessas duas ofertas já anunciadas."

Para a diretora de gestão da Fator Administração de Recursos, Roseli Machado, não se pode falar em retomada das ofertas de ações. "Tratam-se de casos pontuais e, na Brasil Foods, apenas uma parcela dos papéis será oferecida ao mercado", afirma. Ela considera que a procura tanto no caso da empresa de alimentos como da VisaNet dependerá do valor estipulado para as ações e do humor dos investidores no momento em que os negócios saírem. "É uma combinação de um pouco de sorte e preço", resume.

O principal fator de risco para a emissão de ações da BRF é o risco de a fusão sofrer restrições nos órgãos de defesa da concorrência. Essa possibilidade, porém, tem sido vista como pequena pelo mercado. A diretora da Fator também considera remota a chance de outras operações surgirem no vácuo das duas ofertas, como aconteceu nos momentos de euforia da bolsa, quando empresas de um mesmo setor abriam o capital em série. "A recuperação deve ficar para 2010, com a certeza de que o pior da crise econômica ficou para trás", diz.

O diretor de renda variável da HSBC Global Asset Management, Eduardo Favrin, afirma que, com a forte valorização recente da bolsa, o preço das ações deixou de refletir o cenário de risco sistêmico e quebradeira global, como chegou a se cogitar nos piores momentos da turbulência financeira. Ele avalia, porém, que a visibilidade continua pequena e boa parte da migração de recursos para ativos de maior risco já foi feita. Sobre as ofertas de ações, apesar de ver os investidores muito mais seletivos, Favrin diz que há interesse no mercado para papéis com liquidez e de empresas com histórias convincentes. "Me parece que demanda vai existir, resta saber como será a questão de preço."

Para um outro gestor de fundos, que pediu para não ser identificado, a oferta da BRF tem tudo para atrair um grande volume de recursos, em especial dos investidores estrangeiros. "Dependendo da fatia que os atuais acionistas e o BNDES pretendem ficar, pode até faltar papel para o mercado." Com relação à VisaNet, ele aponta como principal fator de risco a possibilidade de aperto na regulação, conforme já foi sinalizado pelo Banco Central.

De acordo com Nicholas Barbarisi, analista da Hera Investimentos, o mercado tem fôlego para absorver as duas operações, sem uma tirar o brilho da outra. "Vimos neste primeiro semestre uma recuperação do fluxo externo para a bolsa, e esses investidores têm bastante relação com as ofertas públicas", destaca. "Os estrangeiros foram até agora os maiores tomadores de papel em oferta e devem continuar sendo. Se houver um intervalo mínimo entre a oferta da VisaNet e da Brasil Foods, as premissas são positivas."

Retorno dos flippers

Por serem ofertas de grande volume, o analista não acredita que devam exceder o montante inicialmente previsto. Outra característica que deve marcar as emissões e as próximas é a liberdade para a ação dos pequenos especuladores, após ficarem de fora de duas das grandes ofertas registradas nos últimos anos, da Bovespa e da OGX Petróleo e Gás.

Na primeira, a bolsa impôs regras para limitar a ação dos chamados "flippers", investidores que vendem papéis de IPOs logo na primeira sessão de negociação. Já a oferta da OGX foi exclusiva para investidores qualificados - com tíquete mínimo de R$ 300 mil. "Acredito que essas novas ofertas não tenham mais o filtro dos flippers. O momento é outro, a dificuldade de captação é maior e naquele momento se selecionava muito para garantir investidores de longo prazo."(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Vinícius Pinheiro e Maria Luíza Filgueiras)