Título: Cerimônias para o povo
Autor: Pariz, Tiago; Iunes, Ivan; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2011, Política, p. 2/3

O velório de José Alencar guarda semelhanças com o do ex-presidente Tancredo Neves, morto em 1985

Uma das primeiras providências da presidente Dilma Rousseff ao saber da morte de José Alencar foi telefonar para um dos filhos do ex-vice-presidente: Josué Christiano Gomes da Silva, o caçula. Ela colocou o Salão Nobre do Palácio do Planalto à disposição para a cerimônia de velório. A homenagem tornou José Alencar o segundo brasileiro a receber honras fúnebres no palácio presidencial. Pela primeira vez desde a morte do ex-presidente Tancredo Neves, em 1985, pessoas comuns subiram a rampa do palácio. ¿Nós oferecemos o Palácio do Planalto na condição de chefe de Estado. Ele também foi um presidente inesquecível de nosso país¿, afirmou Dilma, em pronunciamento feito de Portugal. Alencar presidiu o país durante 398 dias, na ausência de Lula.

Uma particularidade une as biografias das duas autoridades veladas no palácio: o nascimento em Minas Gerais. Um dos políticos que prestaram homenagem a Alencar, na manhã de ontem, foi Aécio Neves (PSDB-MG), neto de Tancredo Neves. Na ocasião, o senador enalteceu Alencar e destacou a importância política dos dois. ¿Muitas vezes, fui visitá-lo no (hospital) Sírio-Libanês e nunca me encontrei com um moribundo, mas sim com um homem que pensava no dia seguinte. O maior legado que ele nos deixa é que vale a pena viver¿, afirmou. Ao fazer um paralelo com o avô, declarou: ¿São dois grandes mineiros. Tancredo Neves, com uma trajetória de vida pública que nos levou à democracia. Alencar, o grande avalista de Lula, ajudou muito para que ações corretas fossem tomadas no governo¿.

Antes de chegar ao Palácio do Planalto ¿ onde em ambos os casos os Dragões da Independência estavam à espera para a condução dos caixões ¿, os cortejos fúnebres das duas autoridades tiveram ainda uma característica semelhante: a velocidade com que o percurso foi feito na capital. Segundo registros da época, o veículo que levava Tancredo Neves ao velório chegou a atingir 70km/h. Ontem, moradores de Brasília que viram a passagem do corpo na Esplanada dos Ministérios também comentaram a velocidade dos carros oficiais.

A quantidade de pessoas que acompanharam o velório das duas autoridades, no entanto, marca a diferença dos dois momentos históricos. No caso de Tancredo Neves, cerca de 7 mil homens da Polícia Militar e do Exército tiveram que fazer a segurança do cortejo para evitar a aproximação de populares, em Brasília. Estima-se que 2 milhões de pessoas tenham acompanhado os cortejos de Tancredo realizados em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e São João Del-Rei (MG). O ex-presidente faleceu em 21 abril de 1985, aos 75 anos. Ele adoecera 39 dias antes, em 14 de março, na véspera da posse.