Título: Energia do vento segue sem força apesar do grande potencial no País
Autor: Toledo,Sérgio
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/05/2009, InfraEstrutura, p. C4
São Paulo, 27 de Maio de 2009 - O Brasil poderia ser uma das nações mais avançadas no uso de energia eólica, mas ainda perde tempo ao caminhar lentamente para aproveitar o potencial que possui para gerar energia por meio do vento. Há divergências entre especialistas e instituições na estimativa do potencial eólico brasileiro, que varia de 75.000 a 143.000 megawatts (MW).
"As divergências existentes entre esses valores decorrem principalmente da falta de informações e diferentes metodologias utilizadas", diz a consultora em gestão ambiental Mari Elizabete Bernardini Seiffert, autora do livro mercado de Carbono e Protocolo de Quioto - Oportunidades de Negócio na Busca da Sustentabilidade.
Embora a energia hidráulica também seja renovável, a geração eólica é complementar à hidráulica. "Quando o regime pluviométrico tende a reduzir, a incidência de ventos tende a aumentar. Isso faz com que a energia eólica se torne uma alternativa complementar importante à energia hidrelétrica em épocas de `apagão hidráulico¿", afirma Elizabete.
Há também o fator "custo". Essa energia pode ser produzida em estações, de forma centralizada, mas também possibilita a flexibilidade e autonomia de produção energética de forma descentralizada, particularmente no caso de áreas mais isoladas. "Isso, evidentemente, representa um custo menor na instalação de linhas de transmissão de energia", diz a consultora.
Segundo o diretor geral da australiana Pacific Hydro, Mark Argar, atualmente existem no Brasil 13 estações, que representam 368 MW, aproximadamente 0,35% da energia instalada (105.000 MW). De acordo com Argar, uma estação de 10 MW atende às necessidades de aproximadamente 40.000 residências. A Pacific Hydro têm duas estações eólicas no Nordeste brasileiro, com produção total de 58 MW. O diretor conta que o Nordeste tem os melhores recursos eólicos medidos até hoje, principalmente no Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba. "As outras áreas de interesse estão no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina", diz.
As áreas costeiras e planas com poucos obstáculos cuja a velocidade do vento é igual ou superior a 7 m/s, a uma altura de 50 a 80 metros acima da superfície, possibilitam a movimentação das pás dos aerogeradores , também chamadas de turbinas eólicas. E está enganado quem pensa que regiões de altitude elevada têm mais potencial. "Estima-se que uma mudança de altitude para 1.000 m acima do nível do mar acarreta uma diminuição de 9% na densidade média de energia e a diminuição de temperatura para 15ºC provoca um aumento de cerca de 2% na densidade de energia média", diz a consultora. De acordo com ela, áreas com ventos muito fortes podem danificar os aerogeradores. Áreas oceânicas também podem ser aproveitadas, porém com custo de instalação, operação e manutenção mais elevado.
Custo do projeto
Os aerogeradores consomem cerca de 70% dos investimentos de instalação de um parque eólico. O custo de um projeto completo com alguma extensão de linha de transmissão é de R$ 5 milhões por MW instalado.
"O retorno esperado pelo Brasil fica entre 12% e 18%, dependendo das condições do projeto", diz Argar. "Avaliei recentemente um plano de negócios de um sistema para geração de energia eólica para pequenas propriedades com um custo total de implantação de R$ 50,7 mil." A tecnologia para desenvolver as pás eólica são dominadas por empresas norte-americanas, alemãs e espanholas.
A instalação de 1 Kw requer um investimento de aproximadamente ¿ 1,3 mil. E o custo de geração varia entre ¿ 0,04 a ¿ 0,06 por kWh em locais com alta velocidade do vento ou até ¿ 0,09 por kWh para regiões com média a baixa velocidade do vento.
O Brasil pode seguir o exemplo dos países que lideram o uso dessa energia. E não são apenas nações desenvolvidas. A Alemanha lidera com 22.3 GW, seguida por Estados Unidos (16.8 GW), Espanha (15.1 GW), Índia (7.8 GW) e China (5.9 GW). E a Alemanha tem a meta de que entre 25% e 30% do fornecimento de energia do País seja por fontes renováveis.
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 4)(Sérgio Toledo/Investnews)