Título: O mesmo para todas as mulheres
Autor: Santana, Ana Elisa
Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2011, Brasil, p. 13

Luciana Holtz de Camargo Barros ¿Eu quero que todas as mulheres do Brasil tenham acesso às mesmas coisas que eu tive. Sou beneficiária de uma prevenção. Eu tive um câncer detectado no princípio e um processo de cura.¿ A presidente Dilma Rousseff pronunciou tais palavras durante o lançamento dos programas nacionais de controle do câncer de mama e do colo do útero, em Manaus, em 22 de março. As ações previstas para o controle dessas neoplasias, mais incidentes entre as brasileiras e que, se diagnosticadas precocemente, apresentam grandes chances de cura, integram a Política Nacional de Atenção Oncológica. O Brasil terá, neste ano, aproximadamente 18,5 mil novos casos de câncer de colo de útero e 49,2 mil de câncer de mama , segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer.

A ampliação da cobertura nacional à mamografia, a criação de 20 centros especializados no diagnóstico, o tratamento do tumor no colo do útero nas regiões Norte e Nordeste e o prazo de 60 dias para o início do tratamento às mulheres diagnosticadas com câncer foram medidas destacadas pela presidente.

Para que as brasileiras atingidas pelo câncer tenham chances reais de vencê-lo, algumas prerrogativas são essenciais. A presidente, assistida pelas mesmas leis que as quase 97,5 milhões de brasileiras, está curada, pois teve acesso ao diagnóstico precoce, foi assistida por profissionais altamente qualificados, realizou cirurgia imediatamente após os primeiros sintomas, iniciou o tratamento em curto espaço de tempo e teve acesso a drogas ainda não incorporadas na lista do Sistema Único de Saúde (SUS).

Diretrizes de tratamento propostas pelo Ministério da Saúde ainda deixam de contemplar aspectos necessários à erradicação das mortes pelo câncer de mama e de colo de útero. A idade mínima para o rastreamento do câncer de mama, por exemplo, é recomendada pelo ministério aos 50 anos, em descompasso aos 40 anos, consenso entre oncologistas e mastologistas. Ainda em relação ao câncer de mama, a não incorporação no SUS de medicações que alvejam a proteína Her-2 (presente em um quarto dos casos de câncer) tira a chance de cura ou de prolongar a sobrevida de muitas mulheres. Sobre o câncer de colo de útero, a ausência da vacina para HPV não se justifica, já que ela eliminaria mais de 90% das lesões precursoras do câncer.

O tratamento que livrou a presidente Dilma do câncer foi de excelência incontestável. Quando todos os brasileiros atingidos pela doença forem atendidos com a mesma primazia, a realidade do câncer no país ¿ ainda demarcada por barreiras como o alto grau de desinformação, o baixo acesso às ações e serviços de saúde e a não prontidão na realização de todas as fases do tratamento ¿, será diferente. Psico-oncologista, especialista em bioética, presidente do Instituto Oncoguia e gerente nacional da Iniciativa Global para a Conscientização do Câncer de Mama Susan G. Komen for the Cure