Título: Justiça interroga pilotos do Legacy
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2011, Política, p. 12

No primeiro depoimento à Justiça brasileira, o piloto Jan Paul Paladino, que guiava o jato Legacy no momento da colisão com o voo 1907 da Gol, em 2006, matando 154 pessoas, negou ter cometido qualquer falha, mesmo sem intenção, que tenha ocasionado o desastre. Admitiu, porém, que nunca tinha voado naquele modelo específico de aeronave, fabricado pela Empresa Brasileira Aeronáutica (Embraer), embora tenha enfatizado a familiaridade com jatos semelhantes.

Depois de ressaltar, reiteradas vezes, que o sistema anticolisão (TCAS, pela sigla em inglês) parecia estar ligado em seu painel durante o percurso, Paladino jogou a responsabilidade para o controle de tráfego aéreo brasileiro, enumerando problemas que teriam contribuído para o desastre, tais como dificuldades de comunicação e defeitos nos radares. Joseph Lepore, que também estava na aeronave, será ouvido hoje. Eles falam de Nova York, por meio de videoconferência, com o juiz federal Murilo Mendes, em Brasília. Ambos são acusados de atentado à segurança aérea.

Parentes de vítimas do acidente acompanharam a audiência na sala onde o juiz ouvia as explicações de Paladino. Do lado de fora do prédio, manifestantes empunhavam faixas e vestiam blusas pedindo a pena máxima para os pilotos. Filha de uma passageira morta no desastre, Anne Rickli considerou as explicações de Paladino muito evasivas. ¿Parece que fica fazendo rodeios para enrolar e não responder as perguntas. O que nós queremos é um julgamento justo¿, destacou Anne. Assim que os pilotos finalizarem seus depoimentos, as partes farão as alegações finais. A sentença, segundo o juiz Murilo Mendes, sairá no fim de abril ou, no máximo, em maio.

Ontem, o juiz se irritou com as interrupções do advogado de defesa, Theo Dias, que estava ao lado de Paladino, em Nova York. O pai dele, o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, também acompanha o caso, do Brasil. Ambos ouviram uma reprimenda do magistrado, no momento em que Theo tentou sugerir ao magistrado fazer uma pergunta. ¿Era só o que faltava o senhor dizer o que eu tenho que perguntar¿, reclamou, ríspido, Mendes. José Carlos saiu em socorro do filho, mas também ouviu. ¿O seu filho já fez três intervenções. Ele terá a sua vez de perguntar¿, respondeu Mendes.