Título: Indústria começa a reduzir ritmo de cortes
Autor: Assis,Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/05/2009, Brasil, p. A4

São Paulo, 28 de Maio de 2009 - A demissões no setor industrial começam a reduzir o ritmo e a apresentar sinais de estabilidade a partir de maio. A recuperação de postos de trabalho pode ocorrer a partir do segundo semestre de forma lenta e não será suficiente para repor as perdas provocadas pelos ajustes realizados pelas empresas no primeiro quadrimestre de 2009. Este cenário indica um enfraquecimento do mercado de trabalho e altera o perfil das negociações salariais, que passam a ter como referência o período desaceleração da economia e de perda de rentabilidade das empresas.

Na avaliação de Miguel Torres, presidente do Sindicado dos Metalúrgicos de São Paulo, "a indústria está caminhando para o final do ajuste. O que sentimos no dia a dia é que as demissões se estabilizaram. Há casos pontuais que não fogem muito do que ocorreu no ano passado", assinala. Torres atribui este comportamento do mercado de trabalho às medidas do governo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos automotores e para produtos de linha branca, além das negociações realizadas entre as entidades sindicais e a indústria para limitar os cortes de pessoal.

No período de janeiro a maio, informa o sindicalista, foram firmados cerca de 30 acordos de redução de jornada e salários que atingiram 20 mil trabalhadores, que correspondem a 8% da base atendida pelo sindicato. "Fizemos muitas negociações com banco de horas, licença remunerada, férias a vencer e férias vencidas para evitar cortes", afirma. No primeiro quadrimestre o sindicado realizou 6.195 homologações em comparação com as 5.586 de igual período no ano passado. Estes dados apontam um saldo negativo de 1,3 mil vagas. Um resultado que, para o sindicalista, reflete um abrandamento do quadro de demissões. "Pela nossa avaliação, deveria ser muito pior", declara.

O levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) fechou abril com saldo positivo de 106 mil empregos formais. A pesquisa mensal de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apurou uma taxa estável de desemprego, de 8,9% da População Economicamente Ativa (PEA), percentual semelhante ao do mês anterior, que ficou em 9% . Os dados recentes traçam um quadro gradual de recuperação.

Segundo Sergio Mendonça, supervisor técnico das pesquisas de emprego e desemprego do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a reação refletida nas pesquisas recentes sinalizam o término do ajuste na indústria. Para Mendonça, no entanto, estes dados não oferecem "segurança" em relação à condição real do mercado de trabalho. A reação do emprego formal do mês passado ficou abaixo do saldo de 294 mil empregos com carteira assinada apurado em igual período em 2008. Para Rodrigues, isto mostra um mercado de trabalho enfraquecido. "Acho difícil fazer uma leitura favorável."

Na opinião do coordenador do Dieese, a PEA, neste momento, se retraiu e este comportamento da população tem evitado um aumento maior nos números de desemprego. "No curto prazo, a PEA não está pressionando o mercado de trabalho como faria em um momento de conjuntura favorável. Como a ocupação se retraiu, a pressão é menor. Os fatores estruturais que movimentam a população ativa não levam a uma explosão do desemprego. Nos próximos dois meses é difícil imaginar que o crescimento da PEA não volte a pressionar a taxa de desemprego", declara Rodrigues.

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, o corte de impostos trouxe alívio para a indústria automobilística que movimenta uma cadeia extensa com grande impacto na oferta de postos de trabalho para a categoria. A indústria de máquinas e equipamentos, pela retração dos investimentos, permanecerá em baixa, com perda de vagas. "O setor de bens de capital está em uma situação crítica", diz Torres. Os metalúrgicos, apesar da crise, sustentaram resultados positivos nos últimos meses, conforme dados do Caged. Em novembro do ano passado, o saldo ficou em 32 mil postos de trabalho, seguido de 58 mil em dezembro e 32 mil em janeiro. No mês de fevereiro, o número alcançou 39 mil postos, caindo para 28,4 mil em março e 19,3 mil em abril.

O fato, avalia, é que toda cadeia industrial ainda tem problemas e o ajuste deverá manter o nível de emprego em um patamar baixo. As contratações do setor sucroalcooleiro são sazonais, mas este segmento tem chances de retornar ao patamar de emprego do ano passado. O comércio, apesar do efeito da crise ter sido atenuado pelo período de aquecimento das vendas no final do ano, também enxugou sua estrutura. "Até que fique clara uma recuperação da demanda, as indústrias vão tentar manter o nível de emprego nos níveis atuais", diz Mendonça.

O foco deverá se concentrar no setor de serviços, que não registrou queda neste período de desaceleração. O destino deste segmento depende do comportamento da renda. "Se houver uma queda de renda nos próximos meses, o setor de serviços será afetado e o desemprego pode aumentar", afirma Rodrigues.

No segundo semestre começa a campanha salarial dos metalúrgicos e as negociações serão feitas dentro um cenário diferente. A categoria tem sua data-base em novembro e conquistou aumento real de 2,66% no ano passado. "Não discutimos a crise, o ano foi bom. Discutimos o desempenho do ano", comenta Torres. Em 2009, o sindicato vai se apoiar nos resultados da indústria, que deve sair mais eficiente e ganhos em qualidade proporcionados pelos ajustes decorrentes da desaceleração econômica. "Vamos ter uma boa discussão, mas vamos conseguir arrancar aumento real de salário", afirma Torres.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Jaime Soares de Assis)