Título: Dólar despenca a R$ 1,629
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2011, Economia, p. 18

Apesar dos esforços do governo, recuo de 1,51% leva a cotação ao menor valor desde agosto de 2008

O dólar continua derretendo, alheio aos esforços do governo para conter a queda diante do real. Apesar de o Banco Central (BC) ter feito swap cambial reverso (operação no mercado futuro que equivale à compra da moeda norte-americana) e dois leilões à vista, a divisa despencou 1,51% ontem, cotada a R$ 1,629, o menor valor desde 27 de agosto de 2008. Para analistas, pouco adiantaram a elevação de 2,38% para 6,38% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em compras no exterior e a taxação em 6% dos contratos de empréstimos externos com prazo de vencimento de até um ano, medidas tomadas nesta semana.

¿O tombo foi grande. Quem controla o câmbio em dias que antecedem a formação da Ptax (média das cotações ponderadas pelo volume, que serve para liquidar contratos financeiros atrelados à moeda) são os bancos. É normal o sobe e desce de preço no fim do mês¿, disse José Roberto Carreta, analista da Corretora Fair. Para ele, mesmo que o dólar se valorize frente a outras moedas, aqui ele continuará perdendo terreno até pelo menos setembro, quando o BC vai mudar a metodologia da Ptax.

Na avaliação de Mário Paiva, da Corretora BGC Liquidez, o ingresso de recursos no país tem sido muito forte e deve permanecer assim por algum tempo. ¿O governo trabalha intensamente para evitar desequilíbrio maior. Está amortecendo o impacto. Não fossem essas intervenções, o dólar já estaria bem abaixo desse patamar¿, salientou. Para resultados mais duradouros, a saída, arriscou Paiva, seria o governo reduzir despesas, de modo a provocar a queda dos juros. Poucos apostam nessa hipótese a curto prazo. ¿Acredito que haja mais dois aumentos da taxa básica de juros nas próximas duas reuniões do Copom¿, disse José Góes, analista da WinTrade.

Segundo um especialista que prefere o anonimato, os investidores se decepcionaram com o governo, porque, desde o carnaval, são feitas ameaças veladas de atuação mais rígida no câmbio, que ¿acabaram ficando em paliativos sem efeito prático¿. No mercado acionário, o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, fechou em alta de 0,86%, nos 67.997 pontos, influenciado pelas boas notícias vindas do exterior e pelo desempenho positivo das ações dos bancos. O índice Dow Jones, em Nova York, subiu 0,58%, impulsionado pela melhora no mercado de trabalho norte-americano.