Título: Com Bush ou Kerry, haverá mudanças na economia
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Fonte: Gazeta Mercantil, 23/09/2004, Internacional, p. A-11

Analistas discutem até a nomeação do próximo chairman do Fed. As eleições presidenciais nos Estados Unidos terão grandes conseqüências sobre o mundo da economia e das finanças. A vitória de Bush seria boa para o mercado de ações, e a vitória de Kerry seria boa para os títulos, segundo analistas da Goldman Sachs.

Mas não é tão simples assim. Em termos mais precisos, um novo relatório do Bernstein Research Call sobre a Fannie Mae (Associação Hipotecária Federal) diz que, "a curto prazo, as ações se beneficiariam com a vitória de Kerry em novembro, pois é improvável que um novo governo fosse hostil" à Fannie e à sua empresa irmã patrocinada pelo governo, Freddie Mac (Sociedade Federal Hipotecária de Crédito).

E o que poderia significar a vitória de Bush para estas associações? Mais ou menos o mesmo ou até pior seria uma aposta tão sólida quanto apostar que a "Maldição do Bambino" (apelido de Babe Ruth, lendário jogador dos Red Sox de Boston, vendido para os New York Yankees) continuará perseguindo os Boston Red Sox.

E quanto ao que não está na tela do radar? Stephen Roach, da Morgan Stanley, queixa-se de que a campanha de 2004 prestou pouca atenção ao maior problema econômico dos Estados Unidos. "O elefante na sala do qual os políticos continuam se desviando é a profunda escassez de poupança nacional - o sustentáculo do crescimento e da prosperidade futura de qualquer economia", diz em uma nova missiva.

Roach acredita que há motivos concretos para se temer que as promessas de campanha de ambos partidos possam complicar ainda mais o problema em vez de solucioná-lo. "A promessa do presidente Bush de tornar permanentes os recentes cortes dos impostos é particularmente preocupante para o orçamento a longo prazo e para a perspectiva da poupança nacional", afirma. "Tampouco o plano de saúde proposto pelo Senador Kerry parece coerente com as difíceis escolhas exigidas para o compromisso da redução do déficit em vários exercícios".

E neste caso é preciso ponderar. "O maior desafio para a economia nos próximos quatro anos é talvez a administração do delicado jogo entre as necessidades de financiamento externo dos EUA e suas relações políticas com os credores estrangeiros", afirma Roach.

Voltemos à análise que o Goldman Sachs faz do presidente George W. Bush e de seu adversário democrata, o senador John Kerry de Massachusetts, e das ações e títulos e coisas que tais. Segundo a visão da equipe do Goldman, o mercado de títulos gostaria que Kerry desse uma ênfase maior à importância da redução do déficit, enquanto o mercado acionário temeria sua meta das reduções da maior alíquota que incide sobre os ganhos de capital e sobre os dividendos, bem como políticas internas específicas que seriam consideradas potencialmente hostis para a indústria farmacêutica e para as particularmente sensíveis a normas ambientais, como os setores de geração de energia, químico, papel e indústrias extrativas.

E assim por diante.

"Embora o presidente Bush esteja na frente nas mais recentes pesquisas de opinião, as eleições presidenciais ainda estão praticamente empatadas", ressalta a equipe do Goldman. E não esqueçamos da questão da direção do Conselho do Federal Reserve. "O novo presidente nomeará um novo `chairman¿ para o Fed", observam os analistas do Goldman. "Embora o mandato atual de Alan Greenspan no cargo de `chairman¿ termine em junho de 2008, seu mandato como membro do conselho terminará em janeiro de 2006. Por lei, ele não pode ser nomeado para um segundo mandato".

Os quatro principais candidatos da Goldman à sucessão de Greenspan no caso de uma vitória de Bush são o ex-presidente do Conselho de Assessores Econômicos (da era Reagan), Martin Feldstein; o ex-`chairman¿ do Conselho de Assessores Econômicos (CEA) (nos dois primeiros anos da atual administração), R. Glenn Hubbard; o subsecretário do Tesouro, John Taylor; e o vice-`chairman¿ do Fed, Roger Ferguson.

Do lado democrata, o principal candidato ao cargo de Greenspan, segundo os analistas do Goldman e praticamente todo mundo, é Robert Rubin, ex-executivo da Goldman e ex-secretário do Tesouro de Clinton, conhecido em alguns círculos como "o melhor secretário do Tesouro desde Alexander Hamilton". A lista democrata inclui ainda o ex-secretário do Tesouro de Clinton, Larry Summers; Ferguson; a ex-governadora do Fed e atualmente presidente do Fed de San Francisco, Janet Yellen; e o ex-vice-`chairman¿ do Fed, Alan Blinder.