Título: Fluxo de IED cai pela terceira vez
Autor: Claudia Mancini
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/09/2004, Internacional, p. A-12

Mas Unctad afirma haver indicações de que o movimento mundial se recuperará em 2004. O fluxo mundial de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) pode fechar 2004 com um desempenho melhor do que o registrado nos últimos anos, inclusive 2003, segundo alguns fatores apurados até agora. O fluxo global de IED recebido acumulou no ano passado sua terceira queda consecutiva, desta vez de 18%, para US$ 560 bilhões. Em 2000, chegaram a US$ 818 bilhões. O movimento referente à América Latina acumulou a quarta queda consecutiva. A retração foi de 3% (US$ 1 bilhão), para US$ 51 bilhões, segundo relatório divulgado ontem pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). É o patamar mais baixo desde 1995.

No Brasil, o fluxo caiu novamente, de US$ 16,6 bilhões em 2002, para US$ 10,1 bilhões. Com isso, o País ficou em 16º lugar no ranking dos países que mais receberam esses investimentos - em 2001 ficou em 11º. Entre os países em desenvolvimentos, ranking liderado pela China, ficou em 5º lugar - em 2002, era o 2º colocado.

Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), estima que neste ano e no próximo o fluxo para o Brasil fechará em US$ 15 bilhões. A manutenção do valor se deve ao fato de, neste ano, uma das operações ter sido expressiva. Foi a de troca de ações entre a AmBev e a Interbrew, de US$ 4,9 bilhões (mais sobre IED na página 4).

De acordo com o secretário-geral adjunto da Unctad, Carlos Fortín, o IED retornará em 2004 na maioria dos países, com a retomada do crescimento econômico e a maior incidência de fluxo de IED no setor dos serviços. Segundo a conferência, na primeira metade de 2004 o valor das fusões e aquisições cresceu cerca de 3% ante igual período de 2003.

Reação

Pesquisas da Unctad mostram ainda que as previsões de reação dos fluxos de IED ocorrem em três quartos das empresas pesquisadas e especialistas estão otimistas sobre os próximos três anos. O relatório aponta que com a alta do crescimento econômico, a melhora dos lucros empresariais e o aumento dos preços das ações, é previsível que depois de vários exercícios de queda, este ano se consolide a tendência de alta.

Segundo a Unctad, a queda do fluxo de IED recebido ficou concentrado nos países desenvolvido, Europa Central e do Leste. Nos países em desenvolvimento cresceu 9%. Luxemburgo lidera o ranking dos países que receberem esses investimentos, com US$ 87,5 bilhões. Em seguida vem a China, com US$ 53,5 bilhões (em 2002 foram US$ 52,7 bilhões). Depois estão a França (US$ 46 bilhões), os Estados Unidos (US$ 29 bilhões) e Espanha (US$ 25 bilhões).

O México é o país latino-americano melhor colocado. Está em 15º lugar, um acima do Brasil, com US$ 10,7 bilhões. Segundo o relatório, das 10 maiores empresas não financeiras da região, seis estão no México e três no Brasil.

O grupo de países desenvolvidos captou investimentos estrangeiros de US$ 366,6 bilhões, uma queda de 25%. Nos países em desenvolvimento, o valor foi de US$ 172 bilhões, e nas economias emergentes, de US$ 21 bilhões.

O país que mais efetuou operações deste tipo foi os EUA. Também foi o que registrou a maior queda de ingresso de IED, de US$ 33 bilhões. A queda verificada no Brasil foi a oitava maior.

"O IED na China têm uma base ampla e de qualidade, que não corresponde ao padrão que esses fluxos seguem no resto do mundo", disse o economista James Zahn, que explicou que enquanto nas demais nações esses investimentos se dirigem ao setor serviços, no caso chinês eles vão para o manufatureiro.

Os países com maior investimento no exterior foram os EUA, com US$ 152 bilhões, Luxemburgo (US$ 96 bilhões) e França (US$ 57 bilhões).

Serviços

O relatório deste ano faz um destaque ao setor de serviços. De acordo com a Unctad, o deslocamento da produção de serviços no mundo está crescendo rapidamente, e somente o impulsionado pelas multinacionais aumentará de US$ 1 bilhão em 2002 para US$ 24 bilhões em 2007. De acordo com o relatório, o setor de serviços respondeu por cerca de 60% do estoque global de IED, estimados em US$ 4,4 trilhões, ante menos de 50% há dez anos. A previsão é de que essa participarão crescerá ainda mais, uma vez que nos últimos anos em torno de dois terços dos fluxos de IED estão em serviços.

James Zahn disse que a transferência de serviços para outros países "oferece novas oportunidades de exportação aos países em desenvolvimento, mas também benefícios aos países que importarem esses serviços e enfrentarem adequadamente o desafio".