Título: Tesouro amplia emissão para 1 bi
Autor: Alessandra Bellotto e Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1

Após upgrade da S&P, custos diminuem; para 2005, programação prevê US$ 6 bilhões. O Brasil reabriu a emissão em euros realizada no início do mês e captou mais ¿ 250 milhões, num total de ¿ 1 bilhão (cerca de US$ 1,2 bilhão), o que eleva as reservas líquidas ajustadas a US$ 24 bilhões. O destaque foi a queda no custo da operação, refletindo a melhora da classificação de risco do País promovida pela agência Standard & Poor¿s. Com os recursos adicionais, sobe para US$ 5,7 bilhões o volume captado de acordo com o cronograma estabelecido para 2004, que teve início em outubro do ano passado com o lançamento de US$ 1,5 bilhão e previa um total de US$ 5,5 bilhões - neste ano, as operações superam US$ 4 bilhões. Para 2005, a meta já foi definida. Segundo anunciou o Banco Central, a programação prevê US$ 6 bilhões.

Para a economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, a reabertura da emissão pelo Tesouro ocorre num momento extremamente favorável. "E provou que um upgrade contribui para reduzir o custo da operação", disse. Os novos bônus da República, com cupom de 8,5% ao ano e prazo de oito anos (vencem em setembro de 2012), vão pagar ao investidor um "yield" de 8,17% ao ano, abaixo dos originais 8,70%. A emissão, liderada pelos bancos Dresdner Kleinwort Wasserstein e UBS Investment Bank em Londres, foi colocada ao preço de 101,875% de seu valor de face, com um spread de 4,39% ao ano acima dos títulos de mesmo prazo do Tesouro alemão. Na primeira tranche, a diferença sobre o bônus de referência ficou em 4,77%.

A redução do custo foi favorecida ainda pela farta liquidez internacional. Segundo Luís Paixão, diretor de Renda Fixa internacional do Banif Investment Bank (banco que participou da distribuição dos títulos no lançamento da operação), assim como na primeira tranche, a demanda ficou bem acima da oferta, chegando a ¿ 700 milhões. Para o executivo, o cenário propício para captações reflete não só a evolução do Brasil mas também o ambiente internacional - ele cita o aumento do juro americano (de 0,25 ponto, para 1,75%) dentro do esperado e o baixo retorno dos títulos de dez anos do Tesouro dos EUA, na casa dos 4%.

Quanto à estratégia de emitir em euro, Paixão destaca pelo menos três pontos positivos: a diversificação do passivo em moeda estrangeira e do risco de mercado pelo Tesouro e os sinais para os emitentes freqüentarem esse mercado. De fato, a operação do Tesouro se tornará uma referência de custo do risco Brasil para esse mercado e prazo.

O BC cumpriu o cronograma de emissões para 2004 e já anunciou seus planos de captar US$ 6 bilhões no próximo ano - montante acima do previsto. Segundo o diretor de Política Econômica do BC, Eduardo Loyo, até o momento, o Comitê da Dívida Externa (Comdex) não decidiu se haverá em 2004 uma antecipação do cronograma de 2005, já que o volume captado até agora supera a meta. "Extrapola um pouco porque não se consegue acertar na mosca o valor da captação no ano, principalmente quando se capta em moedas diferentes, com paridades diferentes e existem razões para que se prefira não ter emissões em valores quebrados", comentou.

Loyo avaliou que a operação de reabertura de bônus em euros foi bem sucedida e que o Brasil tem feito captações no exterior com facilidade e a custos menores. "O País está em condições de crescer e se expandir sem esbarrar em limites de financiamento caso decida por se beneficiar da poupança externa num volume mais alto. Não se parte de uma situação desconfortável de dependência extrema neste momento inicial do ciclo de crescimento.