Título: Preços do boi gordo caem na entressafra
Autor: Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/09/2004, Agribusiness, p. B-12

Oferta 8% maior de animais confinados em relação a 2003, fez arroba cair 3,8% em 40 dias. Os preços do boi gordo estão em queda em plena entressafra, contrariando a expectativa dos produtores. Nos últimos 40 dias, a arroba do boi gordo caiu 3,8%. O aumento da oferta de animais confinados, o clima atípico e o abate de matrizes são apontados como causas dessa baixa, quando normalmente o preço deveria estar reagindo.

Segundo o analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado, está ocorrendo uma sazonalidade invertida, pois em maio o boi estava valorizado e agora o preço está em queda.

"O clima este ano foi atípico, fazendo com que as ofertas de gado ocorressem em períodos diferentes", diz Shirley Menezes, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo (Cepea/USP). Segundo ela, no início do ano o produtor segurou animais e, agora, está ofertando esse gado, já que as chuvas ainda não vieram em intensidade. Com a pastagem seca, o pecuarista gasta na suplementação alimentar do animal. Ou seja, o custo alto não compensa deixar o boi confinado e a alternativa é vendê-lo. "A chuva atrasada causa apreensão ao produtor, que se descarta do animal", diz José Vicente Ferraz, analista da FNP Consultoria.

Outro fator determinante é o aumento do confinamento de animais. Segundo os analistas, no início do ano, a expectativa era de que a arroba do boi estivesse valorizada na entressafra, por causa das vendas externas em alta, o que não ocorreu, mas estimulou a criação. Também com o clima atípico, houve antecipação desse confinamento. "Desde o final de agosto há pressão dos animais confinados, quando geralmente isso ocorre em outubro", afirma Ferraz.

De acordo com Molinari, houve um acréscimo de 8% nos animais confinados. No ano passado foram 1,94 milhão de cabeças confinadas e, neste ano, 2,1 milhões. O analista complementa, dizendo que com as exportações em alta, muitos frigoríficos também fizeram o próprio confinamento, com medo de falta de bovinos, e agora estão usando seus animais agora.

"Maior que o volume, a influência principal nos preços é a oferta nesse período", afirma Shirley. Molinari acrescenta que o câmbio em baixa também está prejudicando a formação do preço, pois o dólar alto poderia estimular ainda mais as vendas externas.

Outro fator apontado por ele é que a relação de troca entre o bezerro e o boi gordo está favorável à reposição, ou seja, o pecuarista se desfaz do animal e adquire novos para a engorda. Segundo ele, a relação é de cerca de 2,5 bezerros para cada boi gordo. "Mesmo que o preço do boi suba, com essa relação de troca, é melhor vender o boi e ficar com o bezerro", afirma Molinari. O analista da FNP Consultoria, José Vicente Ferraz diz ainda que, como não há perspectiva de melhora de preço, o pecuarista acaba vendendo. Molinari também afirma que, se a demanda interna estivesse aquecida, o quadro poderia ser diferente. Mas segundo a sua avaliação, não há crescimento no consumo de carne.

Ferraz acrescenta que outra causa da queda dos preços é um ciclo grande - superior a dois anos - de abate de matrizes. Neste período, a pecuária cedeu áreas à agricultura. Segundo ele, levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que no primeiro trimestre do ano o abate de fêmeas foi 27% maior em relação ao mesmo período do ano passado. Por sua vez, naquela época, o descarte foi 52% maior.

"Se previa uma reação desse ciclo por agora, que ainda não ocorreu", afirma Ferraz.

Para Molinari, a perspectiva é que a partir da segunda quinzena de outubro o mercado possa se reverter, pois deverá haver um hiato entre o fim da oferta de animal confinado e o da safra nova, uma vez que a seca foi mais extensa e atrasará a entrada desses animais. José Vicente Ferraz também acredita que haverá melhora de preço, uma vez que, o gado que está sendo abatido antecipadamente faltará mais tarde e, além disso, há a demanda crescente por exportação.