Título: Eufórico, Serra afirma que chamará Jatene para Saúde
Autor: Sérgio Prado e Wallace Nunes
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/09/2004, Política, p. A-6

PT ironiza e diz que FHC fez parecido, mas perdeu para Jânio, em 85. Pelo clima na cúpula do PSDB em São Paulo, José Serra já aparece sentado na cadeira da prefeitura, em janeiro do ano que vem. Eufórico com a liderança nas pesquisas de intenção de votos, o próprio candidato tucano deixou claro ontem que está montando sua equipe para governar a maior cidade do País, com cerca de 10 milhões de habitantes. Ele disse até que gostaria de ter o médico e ex-ministro Adib Jatene como seu secretário da Saúde.

No lado do PT, a prefeita Marta Suplicy anda de salto mínimo, quando caminha pelas ruas paulistanas. "A eleição está pau-a-pau, uma eleição disputada até o último momento", afirmou a candidata à reeleição. De fato, os principais institutos apontam um quadro de empate técnico no primeiro turno, com vantagem de Serra na etapa final do pleito.

Em campanha no Centro ontem cedo, Serra citou a construção de pequenos hospitais de bairro, em pontos afastados da cidade, como uma das soluções para o setor. Segundo o candidato, o plano é de Jatene. Perguntado se o convidaria para a pasta da Saúde, ele cravou: "Olha, eu acho que seria muita areia para o meu caminhãozinho, mas se ele (Jatene) topasse. Ele é uma figura muito importante". O candidato ainda definiu o médico como "um antecessor magnífico na área da saúde".

Os petistas ironizam o movimento de Serra. Lembram que em 1985, Fernando Henrique Cardoso, tucano de pena mais lustrosa, sentou na cadeira de prefeito para uma foto e quando as urnas foram abertas, deu Jânio Quadros. "Sem falar que o Jatene já tomou um tombo do PSDB, quando foi usado para aprovar a CPMF e depois o governo do Fernando Henrique, com Serra no Planejamento, pegou o dinheiro da Saúde", bate Ítalo Cardoso, coordenador da campanha de Marta.

Ítalo Cardoso diz ainda que a partir de agora, além de responder aos ataques o PT continuará mostrando a proximidade de Marta com Luiz Inácio Lula da Silva para buscar a vitória. Esta linha de atuação foi seguida pela prefeita ontem cedo, quando voltou a visitar obras, que estão sendo entregues, e ampliam a visibilidade de suas realizações. Ela esteve no túnel Max Feffer, na avenida Cidade Jardim, que liga vários bairros da Zona Sul com o Centro.

"As pessoas em volta do túnel estão muito felizes com a antecipação da obra, que vai beneficiar muito as pessoas das regiões mais pobres da cidade, como Capão Redondo e Jardim Ângela", anunciou a Marta, em companhia que estava acompanhada do prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra. Marta disse ainda que o apoio de Lula a sua candidatura vai além de os dois pertencerem ao PT. "Temos perfeita sintonia para quem o governo tem que trabalhar, que é pela maioria pobre desse País e dessa cidade", concluiu.

Lula chegou a ser acusado pelos tucanos de violar a lei, ao pedir votos para Marta, em inauguração de obra no sábado passado. Ontem, presidente Lula se desculpou pela sua animação durante seu discurso. Ao saber disso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse que as desculpas foram um ato sábio.

No início da noite, quando a temperatura caiu um pouco, José Aníbal, que concorre a uma vaga de vereador e é um dos coordenadores de campanha de Serra procurou minimizar o candidato a prefeito. "Não há salto alto. A relação de Serra com Jatene é mais do que amizade. É de admiração".

O ex-presidente do PSDB fez ainda pesadas críticas a militância petista, que segundo ele, é radical e não respeita os princípios da democracia. "O que ele fizeram hoje (ontem) é um desrespeito a democracia. Por mais militante que seja não há porquê fazer isso" afirmou Aníbal. Referia-se ao conflito entre militantes, que ocorreu nas ruas da Zona Sul da cidade. De pronto, Ítalo Cardoso, rebate o ataque. "O Serra tenta colocar-se como vítima, mas não vamos cair nesta armadilha dos tucanos".

Num ato de campanha, numa operação batizada de "Caça-Vampiro", cerca de 150 militantes do PT provocaram Serra, no bairro de Vila São José, na região sul. O confronto gerou tumulto, troca de empurrões e terminou no 101º Distrito Policial. Militantes do PT cercaram o candidato do PSDB, chamando-o de vampiro e sanguessuga. "Vamos botar o Serra para correr", diziam.

Serra disse a atitude da militância do PT é digna de truculência e afirmou que vai pedir proteção à Justiça para fazer sua campanha. O candidato justificou a decisão sob o argumento de que vem sendo hostilizado por militantes petistas.