Título: Presidente da Síria descarta reformas
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2011, Mundo, p. 26

Em sua primeira manifestação desde o início dos protestos e contrariando expectativas internas e externas, o presidente da Síria, Bashar Al-Assad, denunciou uma ¿grande conspiração estrangeira¿ contra seu governo e não anunciou a esperada suspensão do estado de emergência, em vigor há décadas no país. Na segunda-feira, o vice-presidente Farouk Al-Sharaa disse que o pronunciamento traria decisões que ¿agradariam¿ à população. No entanto, em 45 minutos de discurso no Parlamento, Bashar alegou que reformas políticas não são prioritárias. ¿Somos totalmente favoráveis a reformas. Mas não a favor de divergências.¿

Na semana passada, Bouthania Shaaban, conselheira de Bashar, havia anunciado a promessa de revogar a lei de emergência. Imposta em 1963, ela tem sido usada para sufocar a oposição política. A suspensão da lei é uma reivindicação dos manifestantes. Segundo ativistas dos direitos humanos, mais de 100 pessoas teriam sido mortas desde o início dos protestos.

Ontem, o presidente culpou adversários externos de uma ¿grande conspiração¿ contra seu país. Bashar argumentou que seu regime não cairia ¿como um dominó¿. Isso porque, segundo ele, entre outras razões, a Síria tem uma política externa pró-Palestina, diferentemente dos líderes pró-Israel Hosni Mubarak e Zine El Abidine Ben Ali, derrubados após levantes no Egito e na Tunísia, respectivamente.

Minutos após o pronunciamento de Bashar, a página de ativistas no site de relacionamentos Facebook, intitulada A Revolução Síria 2011, convocava os jovens a protestar. ¿Este é o discurso que nos foi prometido? Juro por Deus que é um escândalo alguém como ele nos governar.¿

Em outra página, na mesma rede, o grupo Sírios-Britânicos e Amigos em Solidariedade com a Revolução Síria dizia que Bashar foi ¿desrespeitoso e insultante¿. ¿Ele imitou Ben Ali, Mubarak e (Muamar) Kadafi com sua falta de fundamentos, falsidades e declarações malucas¿, afirmavam os opositores responsáveis pela página. O discurso do presidente foi criticado pelos EUA. ¿Não teve substância e não mencionou as reformas que pede seu povo¿, disse Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado.

Para o professor David Mednicoff, especialista em Oriente Médio da Faculdade de Governo Kennedy da Universidade de Harvard (EUA), o discurso de Bashar sinalizou para duas mensagens. A primeira é a de que o regime não está pronto para se engajar em um processo de reforma real. A segunda, acrescentou, é que o líder sírio parece estar preparado para usar a força e repressão contra seus cidadãos, ¿talvez até mais do que na Líbia e na Tunísia¿. ¿Ele, definitivamente, poderá repreender os protestos com mais violência¿, enfatizou, em entrevista ao Correio.