Título: A competitividade entre os latino-americanos
Autor: Ana Luiza
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/09/2004, Opinião, p. A-3

O ranking de competitividade divulgado pelo International Management Development Institute (IMD), com apoio da Fundação Dom Cabral, novamente expõe a América Latina como a região de menor força competitiva entre os países analisados.

O destaque na região continua sendo o Chile, que se manteve na 26 posição entre os 60 países pesquisados. Em seguida vêm a Colômbia (41), o Brasil (53), o México (56) e, nas últimas posições, Argentina e Venezuela.

A América Latina cresceu menos de 1% em 2003, apresentando crescimento de GDP per capita negativo quando comparada com a performance da economia norte-americana entre 1995 e 2002 e com outros países em processo de desenvolvimento, como Irlanda, China e Índia.

O Chile tem se mantido como o único país da região a apresentar níveis de competitividade comparáveis aos das nações desenvolvidas. Subiu oito posições entre 2000 e 2003, vantagem confirmada também no ranking de competitividade elaborado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). O país se destaca pela qualidade da legislação que regulamenta sua atividade empresarial, o baixo custo de vida e a relativa eficiência de seu setor público. Já seus baixos níveis de poupança nacional (19,4% do Produto Interno Bruto em 2002) e a precariedade da infra-estrutura aparecem como os seus pontos fracos.

O Brasil se caracteriza pela falta de crescimento econômico e entrosamento entre os setores financeiro e produtivo, baixa produtividade da mão-de-obra, legislação antiquada e infra-estrutura inadequada. No ranking, registrou o pior crescimento do PIB per capita. E, apesar do significativo crescimento do fluxo de comércio e do saldo da balança de produtos, ainda ocupa a 52 posição no indicador "exportações em relação ao PIB".

A dimensão financeira aparece como ponto crucial de estrangulamento da economia brasileira. As empresas reclamam da dificuldade de acesso ao crédito e ao capital de risco. Num país com taxas tão elevadas de juros e um mercado de capitais tão incipiente, é importante pensar em arranjos institucionais alternativos que possam suprir essa falha. Mecanismos consolidados nas economias avançadas não podem ser facilmente replicados aqui. O venture capital, por exemplo, que, apesar de ser a estrela do mercado financeiro norte-americano, representa uma parcela muito pequena (cerca de 1,1%) do total de recursos mobilizados nesse mercado - afinal, são investimentos de altíssimo risco.

Já a Argentina apresenta sinais de recuperação após a séria crise econômica de 2002, registrando crescimento de 8,4% em 2003, mas a situação ainda é critica - mais de 30 meses se passaram sem o pagamento da dívida do governo, a inflação e o desemprego são altos, o investimento continua em queda e não há aumento da produtividade.

O México vive situação bastante parecida. Embora tenha sido um exemplo dos benefícios decorrentes da abertura econômica em meados da década de 90, está estagnado porque não conseguiu fazê-lo de forma sustentada. O país perdeu sua competitividade e atratividade para investimentos externos porque não aproveitou o impulso econômico provocado pelo Nafta, deixando de investir em educação, infra-estrutura e desenvolvimento tecnológico, além de não ter reestruturado de forma eficiente seu setor bancário.

Para aumentar sua competitividade e melhorar sua posição em rankings futuros, os países latino-americanos necessitam de mudanças profundas em todas as áreas ligadas ao setor produtivo a fim de propiciar o desenvolvimento de uma economia de conhecimento associada à cadeia de valor. Os governos deveriam ter uma política mais favorável à produção - obviamente sem abandonar a estabilidade - no que diz respeito à política fiscal e monetária, observar a legislação que afeta as empresas (trabalhista, de comércio exterior, do setor financeiro, etc.), investir na educação em todos os níveis e estimular a pesquisa científica e tecnológica no setor privado.

Comparando-se os indicadores de tecnologia latino-americanos aos de países como Coréia, China, Índia e Taiwan, a defasagem fica evidente. Enquanto a Coréia gasta 8,3% de seu PIB em educação, a média latino-americana é de 4,5%. Em termos de patentes, Taiwan tem 241,38 por milhão de habitantes (Uspto), ao passo que a Argentina tem 1,42, o Chile 0,71 e o Brasil 0,55. A iniciativa privada também precisa se adequar. No Brasil, os gastos empresariais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) não passam de US$ 2,49 bilhões e na Argentina são apenas US$ 100 milhões, enquanto na Coréia chegam a mais de US$ 10 bilhões.

As empresas precisam se organizar melhor para desenvolver soluções próprias que não dependam das ações do governo, como, por exemplo, a capacitação dos trabalhadores, parcerias com institutos de pesquisa e empresas e um melhor aproveitamento das cadeias produtivas.

kicker: A Coréia gasta 8,3% de seu PIB em educação; a média latino-americana é de apenas 4,5%