Título: Vale quer vender ações da Usiminas
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/09/2004, Indústria & Serviços, p. A-11

Empresa faz road show nos EUA para apresentar investimentos e tentar reduzir custos de captação. O presidente da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Roger Agnelli, afirmou ontem que a empresa tem interesse em vender suas ações na Usiminas, equivalentes a 22,99% do capital ordinário. "Não é estratégico para nós mantermos a posição na Usiminas. Se recebermos uma boa oferta, venderemos os papéis", declarou Agnelli, pouco antes de participar de uma reunião com analistas e investidores internacionais na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). É a primeira vez que a direção da Vale anuncia, oficialmente, sua posição em relação à Usiminas, empresa onde Vale é a maior acionista individual, entretanto, apesar disso, está fora do parte do bloco de controle. Ou seja, não participa das decisões de investimento da companhia.

Agnelli fez ontem - durante o chamado Dia da Vale na NYSE, quando ele tocou o sino encerrando o pregão da bolsa - uma ampla exposição sobre os planos da mineradora, o que inclui a meta de atingir a posição de "investment grade" no mercado internacional, reduzindo o custo de captação da companhia. Passos importantes nessa direção já foram dados. O principal deles foi a avaliação de risco obtida pela Vale - dada pela Fitch Rating, uma agencia norte-americana de classificação de risco - melhor do que a nota concedida pela mesma Fitch à Republica do Brasil. A Vale ganhou uma classificação BB-, dois graus acima da nota dada ao País. Com isso, a mineradora deverá conseguir reduzir seu custo de captação no mercado internacional, hoje superior a de suas concorrentes em cerca de 300 pontos-base, ou três pontos percentuais.

Os planos de crescimento da companhia - que serão apresentados pelos executivos da mineradora aos investidores internacionais nos próximos dias, durante o road show da empresa nos Estados Unidos - apontam para a meta de produção de minério de ferro em Carajás (PA), de 100 milhões de toneladas entre 2007 e 2008, um recorde mundial já obtido em uma região. Os números levaram a empresa a planejar um novo projeto de exploração, no caso, na mina de Serra Sul, a 120 quilômetros de Carajás.

" Ir além de uma produção de 100 milhões de toneladas numa única mina, quando poderíamos investir em outra, não seria adequado. Por gerenciamento de risco, não devemos ultrapassar os 100 milhões de toneladas num mesmo lugar, por isso estamos prospectando Serra Sul", disse, acentuando que ainda não há qualquer decisão tomada a esse respeito.

De acordo com Agnelli, a Vale está investindo em três áreas de pesquisa em Carajás à procura de novas reservas e realizando um mapeamento da região. "Temos contrato de venda para os 100 milhões de toneladas de minério, e para mais do que isso; quanto mais aumentarmos a produção, maior será a redução de nossos custos", disse o executivo. Aliás, o presidente da Vale conta com um novo aumento no preço do minério de ferro para 2005, depois de uma alta de 18,39% este ano. "A demanda para 2005 e 2006 está forte", afirmou, acrescentando que os reajustes serão amplamente negociados com os compradores. "Não podemos agir contra nossos clientes, porque estaríamos agindo contra nós", disse. Este ano, a mina de Carajás atingirá 70 milhões de toneladas e, em 2005, passará para 85 milhões de toneladas.

A estratégia de vender ativos no setor siderúrgico, como é o caso da Usiminas, faz parte de um planejamento mais amplo da mineradora de investir em novos projetos em parceria com seus clientes. Para isso, conforme o diretor executivo de Novos Negócios e Energia, José Carlos Martins, será necessário gerar caixa para fazer frente aos futuros compromissos. Ainda assim, a participação da Vale será sempre minoritária, de preferencia abaixo de 10%. Os novos projetos em análise, na área de siderurgia, incluem um pólo de produção de placas para exportação, no Maranhão e uma usina em Sepetiba (RJ). Ou seja, há várias alternativas em estudo para ampliar a produção siderúrgica, inclusive no exterior, mas a forma de participação da Vale já está definida.

"Só entraremos em projetos com os nossos clientes, se eles decidirem investir", reiterou Agnelli. A decisão de firmar sua atuação como sócio minoritário é estratégico para a mineradora. Após as notícias sobre a criação de um pólo no Maranhão com investimentos da Vale, muitos clientes procuraram a companhia interessados em ouvir de Agnelli a confirmação de que a mineradora não pretende ter uma expressiva em projetos siderúrgicos. As preocupações se acirraram depois do anúncio feito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo governo do Maranhão sobre os investimentos, de US$ 11,5 bilhões, no pólo local envolvendo a Vale do Rio Doce. Agnelli negou a existência de qualquer valor estimado para os projetos e reiterou que o único em andamento é o que prevê a participação da chinesa Baosteel, apesar da incerteza em relação à presença do terceiro sócio, o grupo europeu Arcelor.