Título: Com Nacional, redefine-se atuação no varejo
Autor: Adriana Cotias
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-1
A consolidação do setor bancário brasileiro a partir do Plano Real teve entre as mais ruidosas operações a compra do Banco Nacional pelo Unibanco, em 1995, no âmbito do Proer. O banco da família Moreira Salles pagou, por uma instituição que era quase do seu tamanho, R$ 1,15 bilhão, ficando com a parte sadia do conglomerado percente aos Magalhães Pinto.
"O grande impulso do banco coincide com esta década de estabilização, quando a capacidade de controlar a inflação abriu uma perspectiva diferente para o negócio bancário no Brasil", diz o presidente da Unibanco Holdings, Israel Vainboim.
Com o Nacional, o Unibanco, reconhecido até ali pela sua atuação no atacado e na área de investimentos, redirecionou o timão para o varejo. Até então, o banco tinha feito sete aquisições ou fusões, mas todas de menor escala. A experiência com o Nacional abriu a frente para um plano mais agressivo. Sucederam-se as compras do Banco Fininvest, Credibanco e Banco Bandeirantes e parcerias estratégicas foram firmadas com o varejo, com redes como Ponto Frio e Magazine Luiza, criando um modelo que tem sido replicado pelo mercado.
A aquisição do Banco Fininvest, em dezembro de 2000 definiu a estratégia do banco no segmento de consumo. Em agosto de 2001, o outro importante passo foi a aquisição de 50% do capital social do Banco Investcred, subsidiária da Globex, controladora da rede de varejo Ponto Frio. Concluída a operação, o controle do Investcred, atualmente denominado Pontocred, passou a ser compartilhado. Um mês depois, o conglomerado anunciava, por meio do Banco Fininvest, uma associação com o Magazine Luiza para a constituição de uma nova empresa, com controle compartilhado, para financiar os bens vendidos pela rede varejista.
As investidas no grande varejo não se esgotaram ali. Em novembro de 2003, o Unibanco adquiria a infra-estrutura de rede e tecnologia da financeira Creditec, do grupo baiano BBM. Mas a operação mais ambiciosa ocorreria no fim de março último, quando o banco levou, por US$ 200 milhões, a HiperCard, a administradora de cartões da rede de supermercados Bompreço, ambas pertencentes ao grupo holandês Royal Ahold. Quando os controladores estrangeiros decidiram fatiar a venda dos ativos no Brasil, o Unibanco se associou ao Wal-Mart. Na outra ponta da disputa estava o Grupo Pão de Açúcar com o Itaú.
Com a aquisição, o banco consolidou-se como um agressivo player no segmento de cartões "private label", criados para ser distribuídos a clientes do comércio, mas que no Nordeste, onde se concentra a operação do Bompreço, extrapolaram as fronteiras de marca exclusiva e funcionando como bandeira. Os 2,3 milhões de unidades agregados à base de cartões emitidos pelo Unibanco são aceitos em 60 mil estabelecimentos do varejo nordestino.
A mais recente investida do Unibanco nessa área, em agosto último, foi o acordo selado com o grupo varejista português Sonae para criar uma financeira e dividir em meio e meio os resultados da intermediação financeira. Com a nova operação, a instituição obteve exclusividade para explorar o canal de distribuição da rede, com 148 lojas espalhadas pelo Sul do País e São Paulo, incluindo as bandeiras Big, Mercadorama, Nacional e Maxx.