Título: Maggi prevê queda na lucratividade
Autor: Inaê Riveras
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/09/2004, Agribusiness, p. B-12

Para Roberto Rodrigues, saldo da balança comercial agrícola será de US$ 32 bilhões no ano. O setor agrícola brasileiro, que sustentou a economia do País nos últimos anos, poderá enfrentar grandes dificuldades em breve devido à queda de lucratividade na produção de grãos, disse ontem em São Paulo o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS-MT).

"Já estamos saindo da euforia para a realidade dura que virá num futuro próximo. No ano que vem, se não mudar o mercado, teremos problemas no setor agrícola brasileiro", disse Maggi durante seminário do Grupo de Líderes Empresariais (Lide).

"Isso (a crise) já tem data marcada para acontecer", afirmou o governador, considerado o maior produtor de soja do mundo, com cultivo superior a 100 mil hectares no Mato Grosso.

Maggi afirmou que o cenário atual, de preços internacionais dos grãos em queda, principalmente os valores da soja, e a elevação dos custos de produção no Brasil devido à forte alta dos insumos agrícolas como fertilizantes e defensivos agrícolas reduziu drasticamente a margem de lucro do setor.

"Teremos um problema sério de lucratividade no ano que vem, que já está sendo sentido neste ano", disse o governador e empresário.

Os preços da soja no mercado internacional atingiram os maiores valores em 15 anos no início deste ano, mas depois despencaram devido aos problemas nas vendas para a China, o maior comprador mundial, a queda na demanda por farelo de soja para ração animal na Ásia causada pela gripe de aves e a supersafra de soja e de milho dos Estados Unidos, atualmente sendo colhida pelos agricultores.

O governador mato-grossense afirmou que um dos resultados desta situação será uma expansão menor do cultivo de grãos no Brasil nas próximas safras.

Custo elevado

Maggi, que é favorável aos organismos geneticamente modificados (OGMs), os produtos transgênicos, aproveitou para criticar a demora na regulamentação da questão. Segundo ele, a proibição dos transgênicos no Brasil ajuda a elevar o custo de produção e a reduzir a competitividade do produto brasileiro no exterior.

"O governo teve mais de um ano para resolver a situação e não deu a devida atenção ao problema dos transgênicos", afirmou.

"Os custos de produção estão ficando muito caros no Brasil e vamos acabar ficando fora do mercado internacional", disse.

Países concorrentes

Os dois maiores competidores do Brasil no mercado internacional de soja, que são Estados Unidos e Argentina, já usam transgênicos há oito anos.

Segundo Blairo Maggi, o uso de soja transgênica resultaria em uma redução de custo de entre US$ 30 e US$ 50 por hectare. "Essa diferença é muita coisa para um produto que custa cerca de US$ 200 por tonelada", disse.

Blairo Maggi defendeu ontem a edição de uma Medida Provisória (MP) para liberar a soja transgênica, com o aproveitamento do texto que já foi aprovado nas comissões do Senado, e também pediu pressa na liberação do algodão transgênico, produto que tem um custo, segundo o governador, muito menor que o do convencional.

Termo de compromisso

O governador mato-grossense afirmou que já existe soja transgênica em praticamente todo País, incluindo o Mato Grosso. "No Mato Grosso ninguém assinou o termo de compromisso (para plantar soja transgênica), mas sabemos que tem. E na próxima safra vai ter mais que neste ano."

Ambientalistas se opõem aos produtos transgênicos por considerar que eles ainda não foram suficientemente testados pela ciência. O governo federal enviou no mês de fevereiro projeto de lei ao Congresso para regulamentar a biossegurança, mas a matéria ainda não foi votada no Senado e o assunto continua pendente de solução.

Balança rural

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, presente ao debate, informou que a balança do agronegócio será recorde este ano e atingirá algo em torno de US$ 32 bilhões, com exportações previstas em torno de US$ 35 bilhões a US$ 36 bilhões e importações de US$ 4 bilhões. "O agribusiness é o melhor negócio do Brasil", disse.

Em relação à produção agrícola, o ministro relembrou que a safra agrícola (grãos e fibras) aumentou 23% nos últimos 15 anos enquanto a colheita aumentou 120% no mesmo período, o que significa um "expressivo aumento de produtividade" obtido pela agricultura brasileira, disse Rodrigues.

A área cultivada com a agricultura atinge 62 milhões de hectares, dos quais 47 milhões referem-se às lavouras anuais e 15 milhões de hectares às culturas perenes (como café, laranja, cana-de-açúcar, cacau e outras). Um estudo da Bunge informa que nos próximos dez anos o Brasil precisará aumentar em 60 milhões de toneladas a produção interna para atender à demanda mundial. Na safra passada a colheita de grãos e fibras atingiu cerca de 120 milhões de toneladas. Isso significa, disse o ministro, que em dez anos o Brasil precisará aumentar em 50% o volume de produtos agrícolas que demorou 500 anos para incorporar.