Título: Fiesp e diplomacia empresarial
Autor: Marcos Troyjo
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/09/2004, Opinião, p. A-3

Novo presidente assume em contexto de desafios globais. Uma nova liderança chega à presidência da mais importante agremiação industrial do País. Afeito ao entendimento, articulação e negociação, Paulo Skaf é um "diplomata empresarial". Hábil na política setorial, familiarizado com os corredores de Brasília, versado em setor de acirrada concorrência internacional como a indústria têxtil. Com estas credenciais, Skaf assume o comando da Fiesp num contexto, também no âmbito mundial, repleto de grandes desafios e oportunidades.

Sua presidência dá-se em conjuntura inédita das relações exteriores do País. Tradicionalmente, o Brasil, que poupa e investe muito pouco, menos de 20% de seu PIB - e portanto sempre às voltas com o desafio de sustentar seu desenvolvimento -, optou no mais das vezes por modelos de inserção internacional que privilegiaram o "financeiro" sobre o "comercial". É dizer: um país que teve de preocupar-se mais com "empréstimos" externos do que "vendas" externas.

A própria geografia brasileira - distante dos principais centros compradores do mundo e marcada por um subcontinente em que somos o único país a falar português - contribuiu para que, ao longo das décadas, o Brasil se tornasse pouco relevante nas trocas internacionais, em que ocupa parcela inferior a 1%. Raramente, nos últimos 50 anos, o Brasil chegou a ter mais de 10% de seu PIB relacionado a atividades de comércio exterior (somadas exportações e importações).

Nos últimos dois anos, no entanto, isso parece ter começado a mudar. Resultado também da maior seletividade internacional da liquidez financeira em relação a mercados emergentes, o Brasil tem sido compelido a aumentar a fatia que ocupa no comércio internacional. Com uma política cambial que favorece o setor exportador, o País vem acumulando sucessivos recordes na balança comercial. O comércio exterior representará, ao final de 2004, cerca de 25% de nosso PIB medido em dólar.

Ainda assim, o "teto" para que continuemos a crescer em termos de comércio exterior é baixo, já que:

1) Até agora não se concluíram satisfatoriamente as "meganegociações internacionais" em que o Brasil está engajado (Alca, Rodada de Doha da OMC, Mercosul-UE). Tais negociações poderiam vir a garantir acesso desimpedido aos maiores mercados do mundo.

2) A maior parte de nossas exportações (cerca de 60%) diz respeito a trocas entre empresas transnacionais. E as mais dinâmicas exportadoras brasileiras são empresas de grande porte, como Vale do Rio Doce, Embraer e Petrobras.

3) Persiste em parte significativa do empresariado noção de que "exportar" representa só alternativa pontual a momentos de desaquecimento do mercado interno.

4) Micro e pequenas empresas (principais empregadoras de mão-de-obra) participam de maneira irrisória do quadro exportador.

5) O Brasil ainda carece de recursos humanos e estratégias corporativas orientadas para promoção comercial no exterior e atração de investimentos estrangeiros diretos (IEDs).

Diante desse panorama, a administração Skaf na Fiesp pode desempenhar papel inovador e de relevância histórica, com benefícios para além das indústrias do Estado de São Paulo.

A evolução recente da área internacional da Fiesp tem sido muito positiva, com fortalecimento do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex), voltada sobretudo à construção do dado estatístico e à informação. O Derex desempenha papel fundamental em temas como informação comercial, monitoramento de negociações multilaterais e "governo a governo", aspectos aduaneiros e consolidação de núcleos de promoção como o Centro Internacional de Negócios.

Se Skaf acrescer a essas atividades uma política de "diplomacia empresarial", ajudando a formação de recursos humanos qualificados para operar no setor privado em temas internacionais e micro e pequenas empresas a trilharem o "caminho das pedras" no comércio exterior, contribuirá de forma decisiva para fortalecer a inserção internacional de nosso país.

kicker: A administração Skaf na Fiesp pode ter papel inovador e de relevância histórica