Título: Preços sobem e mais do que compensam perdas cambiais
Autor: Lívia Ferrari
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/09/2004, Nacional, p. A-6

Aumento médio foi de 12% em oito meses; commodities subiram 18,7%. A valorização dos preços das exportações brasileiras mais do que compensa eventuais perdas com recuo do câmbio. O índice de preço das exportações do País teve alta de 12% nos primeiros oito meses deste ano, na comparação com igual período do ano passado. Para o conjunto das commodities (agropecuárias, minerais e metalúrgicas) o crescimento foi ainda maior, de 18,7%. Os maiores destaques foram as commodities minerais, com elevação de preços de 25% e as commodities pecuárias (carnes) com alta de 28% nas cotações. Nas commodities agrícolas, o aumento foi de 15%.

Individualmente, a maior compradora, a União Européia (UE) respondeu por 35% das exportações brasileiras de commodities agropecuárias, com US$ 9 bilhões até agosto, 31% acima de igual período do ano passado. O volume exportado este ano pelo Brasil, a preços vigentes no ano passado, teria resultado numa redução de divisas para o País da ordem de US$ 5 bilhões em relação ao que foi efetivamente registrado até agosto deste ano (US$ 61 bilhões/FOB), comparou o economista do Instituto de Ciências Econômicas e Gestão (Iceg), Hugo Faria, comemorando a alta nas cotações.

Ele disse que as receitas das exportações brasileiras continuam crescendo (aumento acumulado de 35% até agosto último, face igual período de 2003), enquanto a taxa câmbio se valoriza. Da mesma forma, o superávit comercial segue em trajetória de elevação, acumulando US$ 22 bilhões até agosto e projetando para o ano US$ 32 bilhões. A valorização nominal do real já atinge no governo Lula, cerca de 20%, calculou Faria, lembrando que a taxa média de câmbio para o mês de dezembro de 2002 foi de R$ 3,63 por dólar americano, estando agora por volta de R$ 2,90. Em termos reais, a valorização cambial do período chega a 30%, considerando que a inflação interna , medida pelo Índice de Preços por Atacado (IPA-DI) da Fundação Getulio Vargas (FGV), alcançou no mesmo período, mais de 18% e a inflação americana, por sua vez, também medida no atacado, ficou em torno de 4%.

Para o consultor na área de comércio exterior, Aurélio Cabral de Andrade, o recuo do câmbio deverá contribuir para estimular importações, sobretudo diante da atual conjuntura de recuperação da atividade econômica doméstica. "Desta forma, o câmbio mais favorável a importações poderá ser importante aliado para deter altas de inflação", disse ele. O fato é que a conjuntura internacional está bastante favorável ao Brasil desde o segundo semestre do ano passado, principalmente com a forte elevação dos preços das principais commodities exportadas pelo país, compensando em grande parte o efeito negativo da valorização cambial, disse Faria, do Iceg.

"A rentabilidade das exportações neutraliza o efeito câmbio. Tanto que não tem exportador reclamando de valorização cambial, ao contrário do que acontecia em passado recente", acrescentou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Em seu entender, o mercado externo continua sendo alternativa de vendas, independentemente de câmbio, pois somente agora o mercado interno dá sinais de recuperação. E os negócios de exportação para embarques até o final deste ano já estão contratados.

Também o índice de preços das exportações de manufaturados mostra crescimento este ano, ainda que modesto, de 5%. No caso desses produtos, o grande destaque são os volumes embarcados que estão crescendo à taxa de 25% até agosto (índice de quantum). Com isso, os manufaturados, com vendas de US$ 32,5 bilhões até agosto (incremento de receita de 32,8% face ao período de janeiro a agosto de 2003), respondem por 50,6% do crescimento das exportações brasileiras este ano, mostrando competitividade da indústria. Em termos absolutos, a expansão das vendas externas do país até agosto último é de US$ 15,8 bilhões em relação a mesmo período do ano anterior.