Título: Exportações saltam para US$ 9,8 bi
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/09/2004, Nacional, p. A-7
Vendas nos primeiros oito meses deste ano quase triplicam e devem fechar 2004 em US$ 12 bilhões. No primeiro semestre deste ano, 1,06 mil novos negócios entraram no grupo das empresas brasileiras exportadoras. Enquanto em junho de 2003, 14,67 mil empresas participavam do comércio exterior, em igual mês deste ano esse número subiu para 15,7 mil. No segmento das médias e pequenas empresas, o valor exportado saltou de US$ 3,7 bilhões em 2003 para US$ 9,8 bilhões nos primeiros oito meses de 2004, devendo atingir US$ 12 bilhões em dezembro.
Na maioria das operações, os embarques são compostos por produtos industrializados de valor agregado como amplificadores de som, sêmen e embriões de animais reprodutores de elite. Os setores que apresentam as maiores taxas de crescimento no comércio internacional no segmento os médios e pequenos negócios são alimentos, calçados, máquinas e equipamentos, itens de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, equipamentos médicos e odontológicos, software, biotecnologia, confecções e rochas ornamentais.
Num cenário em que o mercado interno reage e se torna mais dinâmico, as médias e pequenas empresas não demonstram disposição em abandonar as exportações. Para a maior parte dessas empresas, a porta de entrada no comércio externo tem sido a participação em feiras internacionais especializadas.
A Agroexport é um dos exemplos da vertiginosa conquista dos mercados estrangeiros. Empresa de genética sediada em Uberaba (MG), a Agroexport vendeu US$ 1 milhão em 2003 entre embarques de reprodutores zebuínos, embriões, sêmen, máquinas e equipamentos agrícolas. Em 2004, o faturamento da empresa com as vendas feitas no exterior somará US$ 6 milhões, com previsão de se chegar a US$ 12 milhões em 2005.
O presidente da Agroexport, Sílvio Castro Cunha Jr., credita o sucesso à qualidade do material genético zebuíno do país e ao fato de as exportações terem se tornado uma política de governo por meio do fortalecimento da Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex Brasil). Apesar dos fatores favoráveis, Castro Cunha frisou que os negócios poderiam ser mais vistosos.
"A minha empresa e outras que conheço que exportam e que têm apresentado um crescimento acelerado estão encontrando dificuldade em fazer adiantamentos de contrato de câmbio (ACC) de valor elevado. Quando os bancos vêm nossa performance e o rápido crescimento, limitam as operações", disse. Ele referiu-se a operações de US$ 1,5 milhão destinadas a custear o embarque em navio de reprodutores destinados ao exterior. Em outubro, a Agroexport embarcará, por avião, 100 reprodutores de girolando e gir leiteiro ao Benin, na África.
Outro caso de inserção externa é o da Casa Granado. Marca tradicional criada em 1870, a carioca Granado é detentora da marca Phebo. Depois de participar de feiras internacionais de cosméticos na Bolonha (Itália) e em San Diego (EUA), a empresa optou por criar três linhas de produtos específicas para serem comercializadas no exterior. Numa ação que visa o médio e longo prazo, a Granado abriu em junho um escritório de representação nos Estados Unidos a fim de manter o controle sobre as operações de exportações no mercado americano.
"Quero aprender muito nos Estados Unidos. Temos interesse na exportação porque há insumos que usamos que possuem preços dolarizados e as receitas cambiais funcionam como um hedge", comentou o presidente da Casa Granado, Christopher Freeman. As três linhas idealizadas para atender o mercado externo são Brazil Natural (cosméticos com fragrâncias de frutas brasileiras), Rain Forest (cosméticos com fragrâncias específicas da Amazônia) e Margaret Mee (linha que homenageia a artista plástica e ilustradora botânica inglesa).
Para garantir a produção, no fim deste ano a Granado inaugura sua nova fábrica no município de Japeri (RJ), que terá capacidade para produzir 12 milhões de sabonetes em barra por mês. No mercado americano, a Granado tentará se impor também pelo preço. Freeman informou que sabonetes do tipo Phebo são comercializados nos EUA ao preço de US$ 7, o similar brasileiro se apresentará aos americanos com o preço entre US$ 3 e US$ 4.
Em São Paulo, a fabricantes de amplificadores Meteoro é uma das empresas cujos proprietários decidiram seguir firmes nas exportações e não abandonar o mercado externo após a reação positiva da demanda doméstica no Brasil. Empresa familiar de pequeno porte com 120 empregados, a Meteoro tem garantido contratos de fornecimento para 11 países da Europa, Leste Europeu e América Latina.
"O mercado da música no Brasil está bom, melhorou, mas não está ótimo. Aqui há muita instalabilidade, e quando se obtém receita em uma moeda forte isso nos dá mais segurança", disse o diretor-financeiro da Meteoro, Ocimar Ferreira. Devido à limitação na escala de produção, a Meteoro decidiu ingressar no mercado externo por meio dos países pequenos. Ainda assim, a empresa enfrenta dificuldades em atuar em mercados exigentes por não possuir as certificações exigidas. "Colocar um produto na Europa é caro. Nossas certificações custam, de maneira geral para cada país, cerca de US$ 100 mil", disse.