Título: Governo ouve bancários mas avisa que continua afastado da negociação
Autor: Janaína Leite
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/09/2004, Nacional, p. A-7
O governo permanecerá afastado da disputa entre bancários e patrões, pois acredita que não deve interferir nas relações entre capital e trabalho. A decisão foi comunicada sexta-feira pelo ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, a um grupo de representantes dos bancários, após uma reunião na sede do Ministério, em Brasília. A categoria está em greve desde o último dia 15.
Durante pouco mais de uma hora, os grevistas reclamaram ao ministro que estão sendo vítimas de assédio moral e sendo cerceados em seu direito de greve pelos banqueiros, e acusaram estar havendo ameaças de demissões, desconto dos dias parados e corte das comissões recebidas por quem trabalha em bancos públicos. A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), braço sindical da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), negou a acusação.
Os bancos têm obtido liminares impedindo a ocupação das agências, baseados em "interditos proibitórios". Previsto no artigo 932 do Código de Processo Civil, esse instrumento jurídico proíbe ações ilegais que ameacem a propriedade. "A greve dos bancários não tem por finalidade atrapalhar os clientes, mas só haverá solução se houver negociação e os patrões não querem conversar", afirmou o presidente da Confederação Nacional dos Bancários (CNB), Vagner Freitas.
Pela estimativa de Freitas, a greve conta com a adesão de 230 mil pessoas, em um total de 400 mil bancários existentes no Brasil, com movimento espalhado para 24 capitais. As contas da Fenaban apontam para números bem menores. A entidade patronal sustenta que, das 11 mil agências de bancos privados em todo o território nacional, apenas 620 pararam, mas não informou quantos funcionários estão parados.
A reunião com Berzoini serviu para deixar ainda mais claro o racha entre os representantes grevistas. A ala radical, ligada ao Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), ganhou espaço e questiona a legitimidade da Executiva da CNB, que é próxima à CUT e ao PT, de comandar a greve.
A acusação é a de que a Executiva não estaria se empenhando para cobrar do governo - controlador do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal - uma posição a favor dos bancários. "Eles se relacionam melhor com o outro lado, o dos banqueiros, do que com as bases", alfinetou Dirceu Travesso, integrante da diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo e filiado ao PSTU. "Visões diferentes não invalidam o fato de querermos o melhor para a categoria", contemporizou o presidente da CNB.