Título: Uma semana decisiva na disputa de votos
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/09/2004, Política, p. A-10
Candidato do PFL tem larga vantagem na eleição carioca e tende a vencer no 1°- turno. A disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro está definida e a chance de reviravoltas na reta final é remota, segundo a avaliação de analistas políticos. Segundo Luciano Coutinho, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP), o atual prefeito Cesar Maia (PFL) está "nadando de braçadas", colhendo os frutos de uma boa gestão, do fracasso político da esquerda e de seu jeito inusitado de ser e operar a política. "É o único político profissional do Brasil hoje", arrisca Luciano Coutinho.
A julgar pelo andar das sondagens e campanha do prefeito na última semana, os fatos tendem a dar razão a esta interpretação. Mesmo com larga vantagem em relação a seus oponentes - 48% das intenções de voto no último levantamento feito pelo Ibope - Cesar Maia não parou de produzir situações para ganhar a atenção da mídia e dos eleitores. Mas cauteloso, o instituto ressalva que o quadro ainda pode mudar e que não está descartado o segundo turno.
"Ele domina a arte de fazer campanha, de criar fatos e fotos", acrescenta o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília. Sem precisar centrar seu discurso em promessas de campanha, Cesar Maia aproveitou até o início da primavera para faturar. Em seu site na internet, material de divulgação anunciava que o prefeito iria "manter o ritual de cortar os cabelos na entrada da estação para ver se as idéias nasciam coloridas e bonitas".
Entre uma brincadeira e outra, ele vai aplainando o seu caminho para chegar a outro mandato de quatro anos, na segunda maior cidade do País.
Na última sexta-feira, ao vestir-se de astronauta no Planetário da Cidade, o prefeito deu mais um passo em sua estratégia política para enfrentar a dupla Anthony e Rosinha Garotinho (que apoiam Luiz Paulo Conde, do PMDB) na briga pelo Palácio da Guanabara.
Ele pediu ainda que o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do candidato Jorge Bittar entrasse na sua órbita.
Segundo Cesar Maia, o namoro com o PT já se transformou em noivado e não haveria nenhuma dificuldade de composição em 2006. Políticos e analistas lembram que o prefeito passou a campanha inteira sem atacar diretamente a gestão de Lula e, dias atrás, pediu votos para o petista Lindberg Farias, candidato a prefeito em Nova Iguaçu.
Segundo Luciano Coutinho, esse jeito de pensar estrategicamente a longo prazo é uma das causas do bom desempenho de Cesar Maia no Rio de Janeiro. Para o analista, o prefeito conseguiu ver antecipadamente que a população estava enfadonha com o discurso da esquerda. "As pessoas não queriam mais um político que não estivesse comprometido com a gerência da cidade. Ele viu isso e colocou o tema na pauta", diz.
Além disso, Coutinho avalia que Cesar Maia conseguiu também fazer uma boa gestão. Entre suas jogadas certeiras está a conquista, para a cidade, dos jogos Panamericanos, que se realizarão em 2007. O resultado destas façanhas, segundo David Fleischer, é um prefeito muito forte e uma esquerda enfraquecida.
Segundo os especialistas, o xadrez daqui para frente irá depender do resultado das eleições nas principais cidades e câmaras de vereadores do Estado. "O próximo passo de Cesar Maia vai depender de como a governadora Rosinha Garotinho e o secretário de Segurança Pública do Estado, Anthony Garotinho sairão da disputa", diz Fleischer. Ele não descarta até uma mudança de partido do atual prefeito, que já passou pelo PDT e pelo PMDB, para aumentar suas chances ao governo do estado.
Nesta eleição, sua situação é confortável mesmo que se leve em conta um eventual, mas improvável segundo turno. Neste caso, ele teria como adversário direto o senador Marcelo Crivella (PL), que está em segundo lugar e ganhou a simpatia das camadas mais populares, mas que tem óbvias dificuldades de ampliar seu eleitorado. Em terceiro lugar está Luiz Paulo Conde (PMDB), que disputa votos na Zona Sul com os candidatos de esquerda, Jorge Bittar (PT) e Jandira Feghale (PCdoB). Eles têm até agora pequenas chances de acordo com as pesquisas eleitorais, mas ainda apostam na virada, no dia 3 de outubro.