Título: "Democracia indispensável"
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/09/2004, Internacional, p. A-13

O presidente da Rússia, Vladimir Putin rejeitou, na sexta-feira, as acusações de que estaria levando o país de volta à era soviética e disse que via a liberdade e a democracia como peças fundamentais de um futuro estável. Putin, cujo plano mais recente para ampliar ainda mais seus poderes gerou preocupação no Ocidente, afirmou em uma entrevista, que algumas pessoas ainda viam a Rússia como um país congelado nos tempos da Guerra Fria. "Uma década de reformas nos mostrou muita coisa. Em várias oportunidades, tivemos a chance de ver que apenas uma adesão consistente aos princípios da democracia poderá garantir à Rússia um desenvolvimento estável".

Os quatro anos de governo do presidente, um ex-espião da KGB que subiu ao poder prometendo estabilidade, são marcados por um contínuo crescimento da economia patrocinado pelos altos preços do petróleo. Mas, para adversários de Putin, o crescimento se fez ao preço de um aumento do controle sobre os meios de comunicação, sobre o Judiciário e sobre o Parlamento. A preocupação aprofundou-se ainda mais depois de o presidente ter anunciado planos para nomear, e não mais eleger, governadores regionais e para realizar eleições parlamentares usando apenas listas partidárias, reduzindo assim as chances de vitória de políticos não-alinhados. Segundo Putin, as mudanças eram necessárias para unir o país a fim de que ele possa enfrentar melhor a ameaça do terrorismo internacional.

Centenas de russos morreram na última onda de ataques lançados por separatistas chechenos, incluindo mais de 320 crianças e adultos feitos reféns em uma escola no sul da Rússia. Mas o presidente russo negou que as medidas mais recentes significassem uma volta ao passado soviético. "A União Soviética era vista como uma ameaça para outros países... era tratada como um império do mal", disse. "Mas muitos não conseguem perceber que a situação mudou drasticamente".