Título: No mercado interno, a estrutura de recepção precisa de investimento
Autor: Regiane de Oliveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/09/2004, Comércio & Serviços, p. A-16

"O movimento mochileiro é como uma onda: já passou pelo Sul da África, Indonésia, Austrália e está chegando no Brasil", afirma Henry Lippi, proprietário da rede de albergues Ace Backpackers Youth Hostel. Agora, "só falta o País aproveitar", acrescenta.

Segundo Lippi, o interesse dos jovens estrangeiros pelo País é recente, provocado principalmente pela caótica situação do cenário internacional. Isso, porém, não é garantia de que o Brasil seja destino certo para esse público. "Ainda não temos estrutura para atender os jovens", diz ele.

Não porque se trate de um público muito exigente. Segundo Lippi, falta divulgação em outros países e também informações simples como as condições do País, língua, meios de transporte e atividades nas cidades. Além disso, o Brasil apesar de estar desenvolvendo todo um mercado de hospedaria de alto padrão, com resorts e hotéis em diversas partes do território, não conta ainda com uma ampla rede de albergues para atender o público jovem.

Segundo José Carlos Hauer Santos Júnior, diretor-presidente do Student Travel Bureau (STB), ainda é pequeno o número de jovens que vem ao Brasil para estudar: "Temos um programa com alguns estudantes que chegaram este ano de Israel, Japão e Estados Unidos. Mas ainda é pouco".

O problema, afirma Santos, é que apesar dos esforços do governo, ainda faltam investimentos em marketing para aumentar substancialmente o interesse pelo País. Além disso, ele destaca, a falta de segurança é um dos maiores problemas para o desenvolvimento do turismo de jovens.

Ele destaca ainda a falta de políticas governamentais de descontos para estudantes: "No Brasil não se pensa a longo prazo. Isto impede que ofereçamos as mesmas condições que outros países." Entretanto, ele vê uma demanda de jovens interessados no País e, como resultado, maior movimentação na abertura de albergues.

Lippi concorda: "Estamos apenas começando." Dono de quatro operações de albergues independentes, ele conta que começou neste mercado por acaso. "Como moramos perto do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, percebemos uma demanda de hospedagem barata em nossa região e começamos há quatro anos com serviço de Cama e Café."

A entrada no segmento de albergues, porém, veio por uma sugestão dos próprios hospedes. "Ao invés de quarto individual, eles pediam acomodações conjuntas. No lugar de camas comuns, queriam beliches", diz Lippi. "Esta era a realidade que os mochileiros conheciam em outros destinos e que também buscavam aqui."

O interesse pelo mercado de albergues fez com que Lippi deixasse seu emprego de gerente comercial da Yakult. O mesmo fez sua esposa Márcia Gonçalves, que até então trabalhava no marketing da Avon. "Começamos a aprender a cultura mochileira e também o funcionamento da divulgação boca-a-boca do serviço, que garante a movimentação de viajantes."

Atualmente, o empresário contra com albergues nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Parati e Petrópolis. Ele afirma que praticamente 90% de seus clientes são estrangeiros, que passam cerca de três meses no Brasil.

O sucesso do negócio, segundo Lippi, depende da capacidade dos empresários para administrar bem os períodos de baixa temporada e também proporcionar aos estrangeiros meios para que atinjam seus objetivos no Brasil.

Para driblar a pouca estrutura de turismo voltada para este público, Lippi montou um guia para estrangeiros com dicas de como proceder no Brasil. Além disso, estará lançando, no verão, um cartão de facilidades, o Hostels Card, junto a outros albergues independentes. O cartão dará descontos em hospedagens, alimentação e outras atividades que interessem aos visitantes.