Título: Relatório de inflação é destaque
Autor: Silvia Araújo e Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/09/2004, Finanças & Mercados, p. B-2
Indicadores de preços, segundo analistas, vão sinalizar postura do Copom na próxima reunião. Nesta semana, os investidores estarão atentos à divulgação de índices de preços como o IGP-M e do relatório de inflação do terceiro trimestre pelo Banco Central. No documento, a autoridade monetária indicará a sua projeção para o IPCA do próximo ano, fornecendo pistas sobre seus próximos passos em relação ao juro básico da economia. Na agenda econômica, há ainda dados dos Estados Unidos, entre eles índices de confiança e o PIB do segundo trimestre.
Na quinta-feira passada, o Comitê de Política Monetária mudou a meta de inflação para 2005. Para acomodar parcialmente a inércia inflacionária de 2004, o BC passará a perseguir um IPCA de 5,1%, em vez dos 4,5% fixados como centro da meta. Por outro lado, deixou claro que será menos tolerante a choques adicionais que vierem a pressionar a dinâmica inflacionária. Os dados de inflação, portanto, trarão sinais de como será a postura do Copom nas próximas reuniões: se manterá o ciclo de aperto gradual ou promoverá altas mais agressivas do juro.
Na última semana, a flexibilização informal da meta e indicadores macroecômicos sustentaram o desempenho positivo dos ativos financeiros. Na sexta-feira, dados do setor público divulgados pelo governo sinalizaram que será perfeitamente possível cumprir, e até com folga, a nova meta de superávit primário. Nos primeiros oito meses do ano, o setor público fez um esforço fiscal (receitas, menos as despesas) de R$ 63 bilhões, o que correspondeu a 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB). A meta é chegar ao fim do ano com 4,5% do PIB, ante 4,25% da meta anterior.
Houve também uma melhora no comportamento da dívida pública, que recuou para 54% do PIB, contra 55% do mês anterior. Esses dados se somaram a uma série de indicadores favoráveis que foram divulgados ao longo da semana, entre eles os de contas externas, cujo superávit em transações correntes em agosto atingiu o recorde de US$ 1,7 bilhão.
Os analistas dizem que o desempenho dos mercados financeiros só não foi melhor em razão do avanço dos preços do petróleo no mercado internacional e dos sinais do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos ) de que pode ser mais agressivo no processo de elevação do juro. Na semana passada, o Fed elevou a taxa básica do país em 0,25 ponto, para 1,75%. O barril do óleo tipo WTI bateu novo recorde na sexta-feira, ao fechar cotado a US$ 48,88 em Nova York.
Embora o cenário externo não tenha pesado sobre as negociações domésticas, acabou interferindo no comportamento dos títulos da dívida brasileira e da taxa de risco do País. O C-bond, principal papel da dívida, voltou a ser negociado a 98% do seu valor de face, depois de se aproximar dos 100%. Na sexta-feira, o título foi cotado a 98,8% do valor de face (-0,06%). Já a taxa de risco subiu 1,24%, para 477,4 pontos.
Os juros futuros encerram a semana com estabilidade. O contrato de DI com vencimento em janeiro de 2005 fechou em 16,67%, com giro pequeno de R$ 7,4 bilhões. Já abril de 2005 movimentou R$ 11,3 bilhões. Projetou taxa de 17,14%, ante 17,18%.
No câmbio, alguns operadores identificaram uma forte entrada de moeda, o que contribuiu para manter o baixo patamar que prevaleceu ao longo da semana. A divisa foi cotada a R$ 2,871, com baixa de 0,31%. Na semana, subiu 0,13%.