Título: Aposentados vão pedir a suspensão da greve todo dia pela manhã
Autor: Janaína Leite
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/09/2004, Nacional, p. A-4

Aposentados vão pedir aos bancários a suspensão temporária da greve para garantir o pagamento dos benefícios previdenciários, caso não haja acordo na audiência de conciliação marcada para a tarde de hoje pelo Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo, segundo o presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, João Batista Inocentini.

"Vou propor ao comando de greve que os caixas trabalhem durante parte do dia, das 8 às 11 horas, pelo menos. Quanto mais velho e mais simples o beneficiário, mais provável que ele não saiba tirar o dinheiro do caixa eletrônico sozinho", disse Inocentini, que pretende ir à assembléia dos bancários para tentar um entendimento, se for necessário. "Sou a favor da greve, mas o povo não pode ser castigado". afirmou.

Os bancários reagiram com indignação à decisão do Banco do Brasil (BB) e da Caixa Econômica Federal de cortarem o ponto relativo aos dias parados. A opção pelo desconto em folha foi feita na semana passada e oficializada há dois dias, depois de um sinal verde do governo. Apesar da ameaça de não receber, bancários reunidos em assembléias realizadas nas principais capitais resolveram ontem continuar o protesto.

A intenção deles é várias passeatas simultâneas hoje. A maioria delas está prevista para o meio-dia, no centro da capital de São Paulo. Às 14 horas, acontece a audiência de conciliação. Os banqueiros, contudo, avisaram que não atenderão ao pleito dos funcionários.

"Caiu a máscara. O governo usou os aposentados como desculpa para o corte do ponto, mas eles são os mesmos velhinhos que foram maltratados em filas enormes no ano passado", atacou Dirceu Travesso, da ala radical do comando de greve, pouco depois de ser detido ontem durante um ato na avenida Paulista, em São Paulo.

A greve se arrasta desde o último dia 15. A reivindicação é de um reajuste de 17,5% de aumento real, além de reposição de 6,2% por conta da inflação. Os banqueiros propuseram reajuste variável entre 8,5% e 12,8%, mas essa proposta foi rejeitada pelos bancários em assembléias realizadas em vários estados. Desde então, os patrões se recusam a retomar as negociações.

"Esse acordo é muito bom. Infelizmente, virou disputa política e sindical. É só olhar na porta das agências que você não vê bancários", acusou o presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Márcio Cypriano, que também preside o Bradesco. "Há uma `terceirização¿ da greve, tem até gente do MST", afirmou. "Não é com pressão ou bravatas que vão nos dobrar", rebateu o presidente da Confederação Nacional dos Bancários, Vagner Freitas. "Queremos apenas o que é nosso direito", disse.